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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

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Livros para adiar o fim do mundo

02
Jan23

1#2023 - Dissipatio I

livrosparaadiarofimdomundo

Foi final do ano, fecho de ciclo, inspiração para uma nova volta, uma nova viagem, que começa agora, findos os fogos de artífício(que não vi), as festas (a que não fui), as viagens a destinos exóticos (que não fiz), os desejos (que não formulei), as passas (que eram arandos), os brindes (a única parte do ritual que respeitei).

Nos últimos dias do ano velho, fui, mentalmente fazendo balanços, como  a maior parte dos mortais (acho eu) e dessa contagem houve reflexões que foram ficando e que me servirão para outro balanço, o impulso para empreender pequenas mudanças que, a acontecerem, hão de ser visíveis à distância.

É nesta parte que os incautos que me leem pensam: oh, não, mais um post sobre resoluções de ano novo. É quase isso, mas o blog é meu e eu escrevo sobre aquilo que eu quiser, nem que seja para daqui a uns meses pensar "fui mesmo eu que escrevi isto?"

Ora bem, em 2022, não fiz nada do que queria fazer! Não perdi peso, perdi a determinada altura, mas, como sou sovina, recuperei tudinho outra vez. Li muito menos do que queria, mesmo menos, longe do livro por semana, que é sempre o meu objetivo. Não cuidei mais de mim. Senhoras, ficam a saber que não limpei sempre a pele à noite e, em dias mesmo maus, inclusivamente dormi com a maquilhagem que voltei a usar, depois de já não me poder esconder atrás das máscaras, de maneiras que acordei muitos dias com os olhos borrados de rímel e o ar de um panda com insónias há duas semanas. De manhã, limpava tudo e voltava a sujar com mais uma camada de maquilhagem. Para compensar voltei a usar protetor solar. Não cuidei da casa como gostaria, que é um adversário que me vence sempre. Lá vou eu de peito feito  achar que esta semana é que é, que vou chegar a sábado sem uma peça fora do sítio, nem uma chávena no lava-loiça, nem um sapato atravessado, mas até ver nunca aconteceu, acho que são mitos urbanos. Não bebi  dois litros de água por dia, não fiz mais exercício, nem menos, já agora, porque simplesmente não faço (há aqui um lamentável exagero, creio que fiz umas dez vezes passadeira). Em suma, no final de 2022, não era uma versão melhor de 2021, resta-me a esperança de ter sido melhor pessoa, mas como isto não é confessionário, permito-me reservar esse balanço apenas para mim, também para não envergonhar ninguém com as minhas boas ações.

A verdade é que tenho vivido como se fosse imortal, como se não envelhecesse, como se não perdesse capacidades e massa muscular, como se o meu corpo continuasse a ser invisível, levando-me de um lado para o outro, sem que tenha consciência dele, sem que sinta dor, nem limitação, para além da consciência do excesso de peso. Mas é um corpo que me tem servido bem, que aguenta a minha energia, que abençoadamente é sempre muita e me deixa fazer coisas e coisas e coisas. Eis que, no final do ano, o meu corpo se materializou e começou a gritar-me que estava ali e que precisava de manutenção, ou pelos menos de algum cuidado. Dei comigo a cansar-me de posições, a ter cosnciência das costas, a arrastar um braço que se lamenta a cada movimento rotativo, a ter problemas de sono que persistiram mais do que uma ou outra noite, a ter de voltar atrás, porque o corpo se atrasava durante o dia.

Em 2023, vou ter de cuidar deste corpo, preciso dele, logo não o posso deixar esquecido, ou ir rejeitando as partes que vão funcionando com mais dificuldade. Tenho de arranjar o que está desgastado. Esta é a grande resolução: autocuidado, físico e emocional. As minhas resoluções deixaram de ser uma epopeia de coisas que nunca vou concretizar, afuniliaram-se, objetivaram-se na crença de que se todos os dias conseguir ser um pouco mais,fazer um pouco mais, cuidar um pouco mais, juntando isto tudo, no final de 2023, terei feito grande diferença. Daqui a 365 dias, ou sei lá quantos, conto-vos como me saí.  

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