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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Livros para adiar o fim do mundo

21
Abr20

#16/2020 - Quando éramos órfãos - Kazuo Ishiguro

livrosparaadiarofimdomundo

Quando Éramos Orfãos

Editora: Gradiva

Páginas:364

Cá em casa desde a feira do livro de 2018 (penso eu...). Enfim, escolhido para respeitar o princípio de começar a esgotar a biblioteca dos livros não lidos antes de comprar mais - escusado será dizer que tem exigido uma vontade férrea, o que me apetece comprar livros e eu, que até gosto de comprar  on line, as saudades que tenho de uma livraria. Juro, juro. sou vaidosa, gosto dos meus trapinhos, gosto de deambular (pouco tempo) pela lojas, mas uma livraria, ah, é o mais próximo do paraíso na terra (também há ler na praia, mas nem vamos falar de paraísos que ficam noutro planeta.

Gosto de Kazuo Ishiguro, escreve com uma segurança a que é muito difícil ficar indiferente. Conduz com mestria assinlável o recurso ao fluxo de consciência, aliado a uma fluidez coloquial que nos envolve como se participássemos numa conversa com um amigo que nos conta uma história curiosa que lhe sucedeu com a preocupação de nos dar a conhecer todos os pormenores, mesmo aqueles que poderiam parecer dispensáveis. Esse é o primeiro encanto desta escrita e desta forma de narrar que, para mim, atinge o expoente máximo num outro livro, que é Os Despojos do Dia -hei de falar dele já a seguir, que écomo quem diz amanhão ou depois.

Nesta obra acompanhamos o detetive Banks numa investigação que o leva à Xangai da sua infância, onde perdeu o pai e a mãe, sem saber qual o seu destino final. Não. Estão enganados. O livro não é sobre o caso, nem é uma obra policial. Estão tão longe de ser isso como o está o Principezinho. Há referências, mas como um pano de fundo, um pretexto para explicar o motivo pelo qual Banks se encontra em Xangai. A verdadeira investigação é conduzida pelos mecanismos admiráveis da memória - tema que me é muito caro e que parece ser um tópico recorrente na escrita de Ishiguro - que recupera episódios fragmentados, que esforçadamente o narrador procura reconstituir na sua inteireza, mas introduzindo sempre o factor da dúvida, da reformulação, da reconstrução, o que nitidamente se afasta dorelato preciso, recortado e definido. É esse aspeto que seduz neste livro, cujo desenlace é agridoce.

Há depois a reconstituição de uma outra espécie de memória, a memória histórica dos anos que antecedem a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a forma um tanto autista como as peças se vão dispondo à frente de todos sem que se perecebam as implicações das jogadas política - mas é mais uma sugestão do do que a intenconalidade da obra -, a memória social de uma Inglaterra dos anos 30, encantandora no seu snobismo, nas suas convenções sociais tão bem refletidas na própria linguagem e discurso do livro. A galanteria, o cavalheirismo, o carismo de ditames sociais, por vezes ocos, mas deslumbrantes.

É um romance robusto! Como um café arábico, intenso e suave ao mesmo tempo, cheio de subtilezas e foi da subtileza que mais gostei.

14
Abr20

Nunca me deixes, Kazuo Ishiguro

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - Nunca Me Deixes

Estou a ler um outro livro de Kazuo Ishiguro e lembrei-me deste, que foi o primeiro livro que li deste autor. Não me recordo bem como é que cheguei a Ishiguro, mas lembro-me de a minha filha ter brincado comigo assim que saí da barraquinha da Gradiva, afinal nunca tinha lido nada do autor, mas comprei logo três livros. Não sei se isto é otimismo, se é leviandade, se é loucura, se é viver no limite. 

A verdade é que peguei neste primeiro e levei-o comigo nas férias. Dois dias foi quanto ele me durou. Revelou-se uma leitura intrigante. Desde a primeira página, a subtileza dos indícios deixou-me presa à narrativa. Era mesmo urgente a necessidade de perceber. E, ao longo da leitura, quando os indícios se tornaram peças de um jogo de encaixe que passou a fazer sentido, fui sendo avassalado por uma multiplicidade de sentimentos: comovida, horrorizada, incrédula, sensibilizada e abalada pela vontade de mudar o curso daquela história. Isto acontece-me com frequência: não me consigo resignar ao desenlace de um livro - situação que me é muito difícil ultrapassar.

Não posso fazer revelações sobre este livro. Se há por aqui um leitor que tenha ficado interessado, NÃO PROCURE NADA SOBRE O LIVRO! NÃO LEIA A SINOPSE! NÃO LEIA CRÍTICAS! Leia o livro, a frio.

Gostei tanto deste livro, é tão delicado, está tão bem escrito, tão bem imaginado. É tão humano e tão desumano  aum só tempo. Mais uma lição.

 

11
Abr20

#15/2020 - A minha avó pede desculpa, Fredrik Backman

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - A minha avó pede desculpa

Editora: Porto Editora

Páginas: 336

Emprestado (Linda menina)

 

O COVID-19 tem tido consequências devastadoras! Uma delas o teletrabalho e, como dano colateral, arruinou o meu ritmo de leitura. Tenho lido pouco, muito pouco. Tenho vindo aqui pouco, muito pouco. No entanto, sabem o que é que se manteve inalterável? A vontade de comprar livros. Eis a questão que se impõe: serei eu uma amante de livros ou uma compradora de livros?

O último que li, em ritmo arrastado, quase disicplinadamente, foi este A minha avó pede desculpa, de fredrik Backman, autor de Britt- Marie esteve aqui. 

Não sei se foi do momento que vivemos, de alguma falta de disponbilidade mental, mas o livro não foi para mim um AHHHHHHH, não foi não. É um livro bonito, ternurento - como não, se fala da relação de uma menina de sete, quase oito, anos e da sua relçaõ com uma avó muito especial e um bocadinho doida. Mas, em certos momentos, o autor perde-se, a narrativa é errática e, sinceramente, há ali pormenores que menos tinha sido mais. Ainda assim, não deixei de ler. Como curiosidade, a personagem de Britt-Marie entra neste livro já com alguns dos seu tiques. 

Este é um romance de estreia e nota-se que a experiência aguça os talentos, porque o terceiro livro de Backman é muito mais consistente.

Agora o que tenho para vos dizer é que, mesmo assim, recomendo a leitura do livro. É bonito, a história tem algumas curiosidades que valem a pena. Não é aborrecido. Éticamente, a mensagem é enriquecedora. Agora falta-lhe a força literária que eu gosto de sentir nos livros. O fascínio da escrita, o vigor das frases, a surpresa, o deslumbre, a admiração perante um talento que eu invejo e que lamento não cultivar mais.

Leiam, ler nunca fez a ninguém... ou será que depende do que se lê? Vamos a ver o Dom Quixote...

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