#23/2021 - Ecologia, Joana Bértolo - o bom, o mau e o não se sabe bem.
Editora Caminho
Páginas - 504
O bom:
- a capa, é lindíssima.
- a qualidade do papel;
- a ideia original do livro: criar uma distopia, na qual, num futuro não muito longínquo, teríamos de pagar pelas palavras, a forma como se chega à implementação de um plano para a humanidade através da criação de um clima de medo, como forma de levar as pessoas a aderirem mansamente ao que lhes é imposto;
- a ideia da mulher-eco, como gadget perfeitamente inútil, espelho da vacuidade e da vaidade;
- a diversificação dos modos do discurso verdadeira carnavalização da literatura, o pastiche, a paródia, o intertexto;
- o trabalho por trás do livro, a pesquisa, a composição, o conhecimento da autora;
- a arrepiante atualidade, a forma quase oracular como o livro reflete a nossa realidade neste último ano e alguns meses;
- a transcrição de notícias reais, de aparente surrealismo, mas a acontecerem nos dias de hoje, em que, quem tem dinheiro se permite prazeres e gostos absurdos, só porque são compráveis e têm um preço;
- algumas passagens do livro, pérolas da linguagem, frases musicais, ritmadas, surpreendentes;
- a intenção, ou pelo mesmo, o valor pedagógico do livro, grito no meio da cacofonia presente, chamada de atenção para o rsico em que efetivamente vivemos.
- já disse a ideia que dá origem ao livro?
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O mau:
- a extensão do livro, são páginas, senhores, páginas e páginas, não era preciso tanto, mais nem sempre é valor;
- a dispersão da história, embora a contemporaneidade tenha trazido a desagregação da narrativa, formas surprrendentes de "montagem", mais ou menos fragmentárias, mais ou menos elípticas, menos menos lineares, é preciso um fio, é preciso uma ideia, é preciso um desenlace, mesmo que sob a forma do final aberto, a narrativa que não se fecha sobre si mesmo, mas sentir que se faz sentido;
- a desagregação das próprias personagens, nenhuma delas verdadeiramente inesquecível, nenhuma delas verdadeiramente autêntica, todas erráticas, todas amputadas de uma humanidade que, às vezes, nos leva a apaixonarmo-nos, a sofrermos, a vivermos a vida de outrém só porque a personagem romanesca se ergue perante nós, esmagadoramente concreta, ainda que tecida de palavras;
- a narrativa errática, confusa, redundante, prolixa - é isso prolixa;
- o virtuosismo quase barroco, o gongorismo, o cultismo, sem chegar a atingir o concetismo, a concetualização, redundando quase numa opacidade desnecessária;
- o excesso de recursos sem evidente significado na obra, a não ser a mera acumulação.
- a oportunidade quase perdida enquanto distopia, tanto, tanto que se podia fazer com a questão da linguagem...
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O não se sabe bem
- o entusiasmo, o fascínio com que se começa esta leitura;
- o aborrecimento a que se chega a meio da narrativa, questionado-se constantemente, mas para onde é que isto vai?
- apesar de tudo, o levar a aleitura até ao fim...
- leiam e venham cá contar-me o que acharam;
- foi a obra discutida na última sessão do clube de leitura e, em resumo, disse-se aquilo que aqui resumo, não houve consenso, mas o partido do não tinha mais eleitores.