Inspiração do dia - obrigada pela lição
Quem me conhece, mesmo daqui do blog, sabe que vivo na convicção que tenho a profissão mais bonita do mundo:sou professora, mesmo a desempenhar funções de gestão, é isso que sou na essência professora.
Hoje, a propósito de uma formação, foi-me pedido que referisse a coisa mais bonita que me tinha acontecido e que me tinha feito feliz e lembrei-me automaticamente do César (o nome é fictício) e da lição que tinha aprendido com ele.
O César é um menino vítima de maus tratos, de tal forma que a escola teve de intervir para que fosse tratado a propósito de uma tareia que o pai lhe deu, foram acionadas as medidas de proteção de menores. A escola é um lugar seguro para o César, é lá que toma a medicação, graças ao zelo e ao humanismo de assistentes operacionais como não há.
Ontem, a propósito de circunstâncias alheias a esta situação, fui apresentada ao César que me olhou maravilhado (juro que não estou a inventar) e exclamou: "A Diretora? É tão jovem!". E eu ri-me, deliciada, peguei-lhe nas mãos e disse que ele tinha feito o meu dia. E ele acrescentou: "E é tão bonita!" E eu rendi-me com aquela gentileza. E disse-lhe que, por ele ser tão gentil, o iria acompanhar pessoalmente até à sala de aula. E lá fomos. Pelo caminho ele perguntou-me: "A professora sabe o que me aconteceu?". Eu respondi-lhe que sabia e que era por isso que me preocupava com ele. Depois falamos do que é que ele gostava mais na escola, como é que ele estava e, desta forma serena, fomos até à sala. Quando chegamos, ele quis que eu entrasse. Depois despedi-me e este momento ficou-me gravado e o tempo passa e os efeitos deste breve encontro espalham-se no meu espírito como uma mancha de água sobre papel.
O César conhece um ambiente de violência. Não me atrevo a especular mais, porque pouco mais sabemos. Ainda assim, perante o outro, foi de uma gentileza e de uma generosidade verdadeiramente tocantes. Que lição, que inspiração, querido César!
Não gosto de cavalgar os momento mediáticos, porque preciso de distanciamento, mas, sem querer penso no episódio dos Óscares e comparo esse momento mediático com este momento subterrâneo e mais fascinada me sinto com o César.
As horas passam e há uma comoção que me vai dominando, que tive de exprimir, que tive de agradecer. Obrigada César.
Precisamos tanto de cultivar esta gentileza com o outro, de assumirmos o discurso do Bem, de afirmarmos o humanismo e o afeto como forma de nos conduzirmos na vida, de sermos como o César.