Fui ver o filme Barbie, gostei e pensei em Fernando Pessoa
Na sexta feira, dia 20 de julho, do ano da graça de 2023, fui ver o filme Barbie... e apeteceu-me escrever sobre a experiência.
Não fui de cor de rosa, apesar de ser uma cor que fica bem com tudo.
Fui na companhia da minha filha, enquanto mentalmente dava berros de alegria por, aos 20 anos, ela ainda querer fazer coisas comigo. quanto a vida te dá logo a limonada, bebe-a de um trago.
Fui super cansada depois de uma semana muito dura e trabalho, daquelas que testam a nossa capacidade de resistência, pelo que a minha capacidade de interpretação e leitura estava um pouco embaixo, na fraqueza, portanto.
Vai daí, não é que gostei!
Podemos começar pelo fim, quando as luzes se acenderam tinha um filha lavada em lágrimas, bastante tocada pelo filme, porque, de facto, aborda-se ali a relação estreita entre as mães e as filhas, é verdade. Assim, é um filme que nos toca e não, não é por cusa da barbie fever, é mesmo porque é um filme inteligente, tecnicamente desafiante até supreendente.
O filme tem tudo. Recordou-me a passagem em que o Shreck explica ao burro o que é um Ogre, dizendo que tem camadas, este filme tem várias camadas. Tem crítica social? Tem. É focado nas questões de género? É, mas mostrando que a desigualdade é sempre desigualdade, seja sobre as barbies, seja sobre os kens. Coloca questões existenciasi? Coloca. Tem comédia? Tem e de qualidade. Há drama? Há, sim senhor. É comovente? É. Tem música, números cantados e dançados? Tem, vários. Há intertexto e remissões para outras obras? Sim, basta estarmos atentos e termos vivido nos anos 80. Enfim, é mesmo muito interessante.
Entre metáforas mais ou menos óbvias ou subtis, a leitura que mais me ficou foi uma relação improvável com a poesia de Fernando Pessoa e a nostalgia da infância, a passagem necessariamente dolorosa da inconsciência para a consciência, a interferência da consciência na forma como encaramos o mundo. Nascemos duas vezes na vida, quando nascemos efetivamente e quando começamos a ter cosnciência de nós e passamos o portal para esse mundo que se nos vem a revelar imperfeito, feito de dor e alegria. É nesse passo que o filme se mostra mais tocante, mais do que ser uma barbie estereotipada, nada se compara à maravilhosa complexidade e imperfeição que é vivermos e sentirmos.
Olhem, lá que gostei, gostei e, quando voltar a dar aulas, hei de servir-me de algumas cenas para que os meus alunos percebam algumas temáticas na poesia de Fernando Pessoa.
Nota final: Margot Robbie é soberba e Ryan Gosling não se lhe fica atrás.
Outra reflexão, minha e só minha, é que a Greta Gerwig é assim uma espécie de Tarantino nestas coisas mais feministas, é uma cineasta muito autoral.
Podem ir ver, de rosa ou não, mas para formarem a vossa opinião, que é sempre um bom princípio, mas vão sem preconceitos.