#2/2024 - Lincoln Highway, Amor Tolwes: o melhor fica para o fim
Dom quixote,
608 páginas
De repente, por a escrita em dia, retomar esta espécie de diário de leituras, registo impressivo e meramente pessoal do que vou lendo, porque gosto de listas, porque gosto de estatísticas? porque gosto de escrever.
Segunda leitura de 2024, com um pé em 2023, porque ainda o tinha começado aí. Terceiro livro de Tolwes e o cliché dos primeiros amores. Um Gentleman em Moscovo, continua a ser o melhor livro deste autor, para mim, claro. Os outros dois títulos publicados em Portugal estão assim dois passinhos atrás - se calhar até mais, uns metros, a bem dizer.
O livro começa com um bom impulso, interessamo-nos genuinamente pelos dois rapazes que se perfilam como protagonistas, percebemos que há mistério a desvendar, informação bem doseada de maneira a manter-nos presos à leitura. Os dois irmãos têm uma ligação especial, verdadeiramente fraterna e cuidam um do outro. Decidem, analisadas as circunstâncias desfavoráveis em que se encontram, recomeçar a vida noutro estado, aproveitando o ensejo para percorrerem a Lincoln Highway, sonho do mais novo, essa estrada mítica que atravessa os Estados Unidos. Entretanto, surgem outros dois rapazes, que conheceram o protagonista no tempo em que esteve internado num refomatório, devido a um erro do passado. A partir daqui o livro embala numa sucessão de peripécias e episódios, prefigurando-se como uma road storyiou road book, que, a determinada altura quase se tornam maçadores.
De facto, houve ali um momento em que o livro me começou a enfadar um bocadinho, ai mais do mesmo, etc, etc... mas, depois, ao aproximar-se do final, a narrativa ganha novo fôlego, as linhas cruzadas revelam o bordado que traçavam, as vozes e os episódios conplementam-se e a história ganha em estrutura e solidez. Até que fecha com chave de ouro, o final, longe de ser delicodoce, é surpreendente, trágico, irónico, redentor e essa reviravolta salva o livro, que se assemelha a um café forte, cujo travo persiste longo tempo após ser saboreado.
Em suma, é uma leitura que vale a pena. Amor Towels mantém o jeito para narrar histórias com grande vistuosismo e, ao mesmo tempo, resgata-se a confiança em Barack Obama, que tinha recomendado este livro. Fica ainda a nota que o livro foi presente do dia da mãe, nada sabe tão bem como perceber que os nossos filhso estão atentos e nos conhecem.