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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Livros para adiar o fim do mundo

20
Set20

#30/2020 - Rua De Paris em Dia de Chuva, Isabel Rio Novo: literatura e artes plásticas

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - Rua de Paris em Dia de Chuva

Editora Dom Quixote

228 páginas

Sou uma curiosa acerca da pintura, uma amadora. Interesso-me especialmente pelo Renascimento, em primeiro lugar, e depois pelo Impressionismo - talvez o movimento/período que mais me seduz - mas também o modernismo e o cubismo. Estou sempre disposta a aprender e a saber mais sobre este tema e, apesar do meu interesse de anos, continua a sentir-me ignorante a esse respeito. Por este motivo há um tipo de livros a que não resisto, aqueles cuja ação se relciona com a pintura, com a biografia dos pintores, com aspetos emblemáticos de uma escola ou de um movimento. Este ano de 2020 já me trouxe o maravilhoso O nervo óticoFala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes de que já vos falei aqui no blog, e há mais tempo o também extraordinário O paraíso do outro lado da esquina, de Vargas Llosa.

Tão longa introdução para chegar ao livro de Isabel Rio Novo, mais uma que me fez ficar verde de inveja. Rua de Paris em dia de chuva - o título é retirado do título da obra maior de Gustave Caillebote, mecenas que conheceu os nomes grandes do impressionismo, mas que foi ele mesmo um importante artista, autor  de de centenas de quadros, mas que permaneceu na sombra de outros pintores impressionistas. Mas não foi apenas pela escolha do tema que me rendi a este livro, ele é mais, muito mais do que isto que acabei de enunciar.

Comecemos pelo facto de este livro ser híbrido quanto ao género, oscila deliberadamente entre a biografia (fantasiada em alguns aspetos, verdadeira noutros), a pesquisa histórica e artística, metarromance, diário de bordo. As personagens que nele se cruzam atravessam séculos, países, espíritos, derrubando os limites físiscos quer do tempo, quer do espaço. Todas são fascinantes, ensimesmadas, reflexivas, perseguindo objetivos de vida que se tocam e se interligam, resultado do fascínio, da curiosidade, dos acasos e das coincidências que por vezes nos sobressaltam por parecerem evidências de um plano que desconhecemos.

A escrita é muito segura, interessante, surpeendente. Indaga-nos, interprela-nos e obriga-nos a refazer o esquema mental da própria leitura, levando-nos sempre a sair do livro, para, por exemplo recordarmos a visita a Giverny à casa de Monet, imaginando a partir dessa visita o ambiente onde circulou Caillebot e talvez a sua própria casa. É preciso também fechar o livro para aproveitar o facto de a capa reproduzir o quadro de Caillebot. É preciso pegar no telemóvel e fazer pesquisas na internet para percebermos de que fala a Autora quando se refere às obras de Caillebot: Lixadores de Chão, por exemplo. 

E há a referir o facto de a Autora/narradora se recusar a pertencer ao paradigma da narrativa do século XIX de que muitos escritores se fizeram herdeiros. Ela é a Autora, personagem do seu próprio romance, que nos fala do seu fascínio por Gustave Caillebot, do seu processo criativo, da sua própria indagação  a respeito deste artista. 

É uma obra fascinante, complexa, inteira, segura e um excelente momento de leitura, uma aula de história de arte, regressei pela memória às minhas aulas de Literatura e Artes plásticas. Leiam, como exercício sensorial. É um livro que vou reler, com aqueles vagares de estudo. Quando o estava a ler, estava a gostar tanto que me lembro de tentar ler devagar, para prolongar o prazer.

 

 

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