#44/2020 - Mrs. Caliban, Rachel Ingalls: como um bordado.
Editora Cavalo de Ferro
126 páginas.
... foi comprado para oferecer, não estava embrulhado. Juro que ia só espreitar! Mas estava à lareira, li uma página, depois outra, li todo. É bastante sustentável, era um livro que eu queria para mim, agora já não vou comprar. Acho que para o ano vou oferecer livros a toda a gente que conheço, fica sempre bem, começo já a comprar em janeiro e embrulho em dezembro. Não há nada como antecipar e fugir às confusões de última hora.
Este Mrs Caliban fez-me lembrar o enredo do filme A forma da água: há um monstro aquático, uma história de amor, mais algumas coisitas em comum. Mas fui pesquisar e, pelos vistos, não têm nada a ver um com o outro. Este romance, que é considerado perfeito, é de uma delicadeza extrema. É uma obra pequenina, lê-se de um fôlego, é um pequeno prazer. A história é simultaneamente triste e alegre. Quando a vida nos dá limões azedos, quando não nos conseguimos libertar da nossa própria existência e daquilo que nos faz sofrer, às vezes suregem formas de evasão que poeticamente nos salvam. É isso que acontece a Dorothy, presa a um casamento infeliz, tratada com indiferença pelo marido, entregue à sua rotina, onde sobrevive mais do que vive.
O livro, na sua ambibuidade, é belíssimo e Dorothy é uma heroína trágica, bondosa, naif, pura e sonhadora, que encontra em Aquarius tudo o que lhe falta na vida e que pode manter enquanto conseguir aguentar a ilusão.
Vão ler, é bonito, é simples, é como um pequeno bordado, uma filigrana. Gostei muito.