#46/2020 - O velho que lia romances de amor, Luís Sepúlveda: o post mais sustentável do ano
Editora Asa
110 páginas
Porque é que este post é o mais sustentável do ano? Porque foi um livro emprestado por uma querida amiga, que o comprou em segunda mão - o livro até traz uma dedicatória: "À minha querida vovó, com votos de muitas felicidades. Beijinhos. Paulinha. 24-7-99", não é maravilhoso? - e, por último, é uma releitura. Entretanto, o exemplar que eu tinha perdeu-se nas malhas que os empréstimos tecem, o que me faz acreditar que também se trata de um reaproveitamento. Se isto não é reutilização e consequente sustentabilidade, não sei o que seja. Espero que a Greta Thunberg esteja a ler este post e redima toda uma geração. Mas, não deixa de ser interessante traçar estas biografias dos livros. Não sei se um ficheiro PDF ou um e-book conseguiria a mesma proeza, estou só aqui a questionar-me.
Este deve ser o livro mais conhecido de Luís Sepúveda, esse saudoso escritor que o traiçoeiro 2020 e o sua melhor amiga, a COVID-19, nos levaram. Já não consigo precisar quando o li, mas foi há muitos, muitos anos. Lembrava-me muito bem que havia uma onça, não me lembrava tão bem como é que Sepúlveda, antes da Greta, já nos alertava para a exploração desenfreada da natureza e do nosso planeta. Depois, no Brasil, esse país que suponho maravilhoso, exuberante, nada parece mudar e o assalto aos recursos continua a fazer-se desenfreadamente, bem como o encurralamento das poucas tribos índias que vão sobrevivendo a estes desmandos.
Efetivamente, a ação desencadeia-se quando um idiota mata os filhotes da onça e fere o seu macho. Há toda uma alegoria à volta disso. No confronto entre o velho e a astuta onça temos duas faces de um mundo autêntico e equilibrado que agoniza. Homens e animais deixaram de coexistir em harmonia, num mundo em que a exploração dos recursos obedecia ao conhecimento desse necessário equilíbrio e não em função de uma ganância descontrolada. Ficaram-me desta vez perfeitamente marcados os últimos momentos do livro, aqueles em que o velho e a onça representam o último ato. O final do livro é tão bonito, tanto a onça como o velho são de uma dignidade a que muitos de nós aspiram e, além disso, os romances de amor, os livros, as palavras bonitas surgem como forma de sublimação da barbárie que cerca a Amazónia.
Creio, desde há muito, que os livros são partes de uma conversa universal que se mantém através dos séculos, daí que uns nos façam pensar noutros, sobretudo quando se debruçam sobre a própria universalidade, a humanidade, aquilo que procuramos - provavelmente desde o momento em que nos tornámos sapiens. Este O velho que lia romances de amor não pôde deixar de me remeter para O velho e o mar, de Hemingway. O homem e a natureza, o engenho contra a força primordial que habita o nosso planeta e que é encessário preservar, estimar, admirar e, já agora respeitar.
E pronto, não podia haver mesmo um post mais eco-sustentável do que este. Recomendo também o documentário de David Attenborough, já que cavalgámos esta onda. Mas primeiro leiam este livrinho, que se conta entre os pequenos prazeres, mais um bombom de Natal.