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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

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Livros para adiar o fim do mundo

03
Out22

#7/2022 - Crónicas italianas, António Mega Ferreira: melhor livro de viagem

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - Crónicas Italianas

Sextante Editora

252 páginas

Vem este post a propósito do facto de este livro de António Mega Ferreira ser o vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagem Ondina Braga 2022.

Mega Ferreira é um exímio prosador, diria que tal, como no verso de Camões, ele é o amador que se transforma na coisa amada: o livro inscreve-se numa tradição secular, a da viagem como formação, a da viagem a Itália como uma espécie de pós-graduação nesse circuito, já que grandes nomes da literatura, da pintura,  do cinema e da música viveram o mesmo fascínio por essa terra de superlativos atributos que é a Itália. O livro resulta de um amor maduro pela Itália, que é transversal a todos os textos, e nos faz amar esse país e nos leva a querer ir até lá e seguir essas linhas do que é uma autêntica educação visual.

Tecido de uma erudição que nele se verte de maneira bastante elegante, nada ostensiva, leva-nos a perspetivar algumas das cidades mais conhecidas de Itália fora dos circuitos do  turismo de massas, atento aos "leões" dos folhetos, levando-nos a procurar lugares arredados dessses centros para procurar tesouros supreendentes, artistas menos badalados,  pérolas fora do bulício das ruas mais movimentadas, permitindo-nos o luxo da contemplação em sossego, quase exclusiva.

Li este livro enlevada e, por causa dele, o meu destino de férias este verão foi Itália. Na bagagem, este e o Práticas de viagem. E dei-me a esse luxo, andar por cidades fora dos circuitos mais badalados, sem multidões (à exceção de Florença), em agosto, mas deambulando como se fosse sempre domingo, demorando o olhar, sentando-me em dezenas de lugares, maravilhando-me perante um património que parece inesgotável e relendo vagarosamente em algumas das "estações" as páginas destes livros. Foi o que se chama uma experiência de leitura imersiva. Devia haver mais livros assim, conhecedores e amadores, devolvendo-nos essa forma de olhar que nos permite também a viagem como formação.

Partilho aqui uma pequena história desses dias e por causa deste livro. A crónica "Uma parede em Prato", que começa assim "Eu tinha querido ir a Prato", foi determinante para que eu também quisesse ir, contemplar essa parede, na senda de Fra Filippo Lippi. Mas os últimos dias em Itália foram de tempestades e de trovoadas e eu não gosto de trovoadas, daí que fosse adiando Prato, por causa da previsão de trovoadas... até que, no último dia, a caminho de Bolonha, tinha ficado combinado que iríamos à Duomo de Prato ver a tal parede, seja o altar mor. Chegados a Prato, foi um percurso direto até à catedral, e ia tão cega que quase não via os quatro sujeitos à entrada, vestidos a rigor com traje a lembrar uma qualquer confraria e... barraram-me a entrada e, perante o meu espanto e um esforço para nos entendermos, lá percebi que não poderia entrar, que não veria a parede nem os frescos, que a minha ida a Prato teria de esperar talvez por outra viagem: tinha morrido o bispo de Prato, naquele dia 31 de agosto de 2022, àquela hora precisa estava a decorrer com pompa e circunstância a missa do seu funeral. E Prato ficou adiada, apesar de, talvez ter sido a principal razão de me ter decidido por Itália. Salvou esta manhã um café primoroso numa rua lateral da catedral, pouco italiano, de um bom gosto extremo, onde pontificava um amável gigante e onde se serviam umas tardes de comer e chorar por mais, misturando-se nessas lágrimas o desgosto acabado de viver e o prazer provocado por uma perfeitíssima tarde de maçã.

Volarei a este livro, porque o queria saber de cor, e sonho voltar a Itália, começando, claro está, por Prato. Isto tudo para dizer que o galardão atribuído ao livro é justíssimo.

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