#8/2024 - Certas Raízes, Hélia Correia: contos intrigantes.
Relógio D'Água
97 páginas
Este volume de Hélia Correia reúne 7 contos, narrativas breves carregadas de sentido, profundas, complexas e motivadoras de perpelxidade, quando não perturbação.
A autora escreve muito bem, revela um exímio domínio da palavra e da narrativa, doseando inteligentemente a informação que revela, deixando vastos espaços para a intepretação do leitor. É, por isso, uma leitura que nos deixa quase inquietos, mas também muito rendidas à sua forma de contar. Efetivamente, há aqui uma maturidade que a longa experiência de Hélia, em especial, nos contos, justifica e explica.
Destaco o último conto do volume, precisamente o que comunga do mesmo título do livro e qur remete para a persisitência de certas raízes na naturez humana, que nos mantêm próximos da ferocidade animal, em especial quando nos agregamos em bandos (alcateias), quando protegidos pelo grupo a que pertencemos somos capazes de atrocidades, talvez porque destituídos de individualidade, talvez, porque não é concreto o nosso papel, talvez porque nso limitemos a participar e a nossa presença legitime o crime comum.
Outros contos remtem ainda para a procura da beleza eterna, para a construção de um copro perfeito, que se vai/nos vai fragilizando, que se torna obsessão e nos afasta da realidade. Denuncia-se através dessa perseguição certas pulsões que nso acometem no presente, que nos esvaziam pouco a pouco da nossa humanidade, já que, compulsivamente cedemos à artificialização do que somos, da idade, do rosto, do corpo, da alma, por fim.
Se fosse possível encontrar um ponto comum entre todos os contos, diria que a desumanização seria uma dessas ideias que são transversais ao livro, o que lhe confere o seu pendor satírico. É uma denúnica, é uma escrita reveladora dos nossos equívocos.
Por fim, destaco a perfeição da escrita de Hélia Correia, sóbria, inteligente, erudita, fluida e inquietante.
Recomendo, pois.