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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

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Livros para adiar o fim do mundo

26
Fev20

#9/2020 - Uma Educação. Tara Westover - parece mentira, mas não é...

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - Uma Educação

Editora: Bertrand

Género: Biografia/memórias

Páginas: 372

Imagine-se numa comunidade fechada, em que um chefe de família acredita que Deus comunica diretamente com ele, em que se recusa os avanços da medicina como perigos espirituais de que devemos fugir, em que se vê a escola e a educação como um caminho para a perdição, em que todos os gestos diários estão ligados à preparação da vinda de Deus, em que tudo é interpretado como manifestação de um sinal de Deus. Agora feche os olhos e tente localizar estes acontecimentos num período histórico... Se pensou na Idade Média, no obscurantismo da Inquisição Peninsular ou em qualquer coisa deste género, enganou-se: este livro é um relato biográfico/memorialístico de uma jovem americana e reporta-se ao final do século XX e início do século XXI. A autora está viva e de boa saúde, é bonita e tem um doutoramento... porque conseguiu à conta de um fratura dolorosa com esse mundo contar a sua história e ter uma educação.

Não é um livro propriamente de domingo à tarde. Para nós, pessoas da segunda década do século XXI, preocupadas com a educação dos nossos filhos, com a abertura de espírito e o pensamento crítico, a liberdade sob todas as formas, o direito à saúde, a preocupação com o programa nacional de vacinação como forma de escaparmos a doenças que dizimam populações, é manifestamente difícil imaginar um mundo em que estas "comodidades", chamemos-lhe assim, são liminarmente recusadas, não porque não se tem direito, ou não estão garantidas, mas porque não se quer, porque não estão de acordo com a intepretação dos textos sagrados. Não há nesta reflexão o mais ténue juízo de valor - há só perplexidade a partir da minha perspetiva. Ainda assim, até que ponto é que privar as pessoas da liberdade de escolha está certo?

A autora, Tara Westover, imerge nas suas memórias de infância e de juventude e recupera o mundo em que viveu, rude, violento, áspero, quase tão agreste quanto as montanhas sob as quais viveu. No entanto, o mais interessante do livro nem é isso. É em primeiro lugar a superação de tudo o que a podia limitar, uma enorme capacidade de empenho, de luta, de determinação - afinal ela chega à Universidade sem nunca ter ido à Escola Secundária. Mas, a um nível mais profundo, é também uma história de amor pela família, uma história de escolhas difíceis: entre o individual e o coletivo, entre as memórias e a sua reescrita, entre a afirmação e a submissão, entre a dor de ser assertivo e o conforto de se deixar convencer. Além disto tudo, o pormenor que mais me impressionou foi o facto de Tara chegar a duvidar das suas próprias memórias por lhe terem afirmado e reafirmado que a sua versão não era verdadeira.

Há, por último,a questão da educação: Tara confirma o dito de Einstein: "uma mente que se abre a ma nova ideia, jamais poderá voltar ao tamanho original". Apetece dizer, é a educação, estúpido. Sim, a educação é fundamental, é o caminho que resta a uma enorme percentagem de pessoas que dela necessitam para se libertarem e para refletirem sobre o mundo e sobre o seu próprio papel nesse mundo.

Recomendo a leitura deste livro, como inspiração, como lição de humildade, como lembrete do muito que temos, como forma de nos tornarmos mais gratos.

É uma leitura para nossa educação. 

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