Aqui deixo a continuidade da lista das minhas leituras de 2023, certificadas com processo científicos de que ninguém se atreverá a duvidar.
julho 2023 - dias grandes, finais de tarde na praia, dias na praia, o que é sempre bom para a leitura
Terra Alta, Javier Cercas - entretenimento, ali já a navgar num registo policial, que é terreno por onde me aventuro pouco. cumpre, bem, é leitura absorvente, lê-se com gosto, interesse e expectativa. Não desaconselho.
Terra Americana, Jeanine Cummins - um livro que já tinha estado nas minhas intenções de leitura, mas do qual desisti por ter lido algumas críticas. Passada essa quarentena e graças à hora H da Feira do Livro, comprei para poder dar a minha opinião, por ter lido e por não ter ouvido dizer. Resultou num complexo de que ainda não decidi o desfecho. Ler, lê-se, é inesquecível, hummm, entretém, sim, mas falta-lhe deixar marca, deixa a sensação de ficar sempre aquém. Reli as críticas ao livro, revi-me na maior parte delas. Olhem, façam como eu, se têm curiosidade, leiam e depois formem a vossa opinião, nos tempos que correm, é sinal de maturidade e espírito crítico.
A forma das Ruínas, Juan Gabriel Vásquez - Vasquez é um dos escritores que tenho acompanhado com muito gosto, dele só me custou ler Olhar para Trás. É uma leitura deveras interessante, em especial por se assumir um registo multiforme de géneros (crónica, relato autobiográfico, romance, análise histórica), faz-se uma análise profunda sobre alguns dos acontecimentos-chave da história recente da Colômbia e, como sempre nesse tipo de relatos, aprendo sempre muito e há sempre um impuso para a pesquisa e o aprofundar de conhecimentos, na tentativa de compreender o livro lido. Não será um livro para beginners, mas para leitores de estrada larga é de não se perder.
A cripta dos Capuchinhos, Joseph Roth - Roth é um dos autores de que nunca me arrependo de ler nada do que tinha escolhido. É um escritor com gravitas, cuidadoso, contido, magistral. Já tenho mais um na mina lista de desejos. Adoro, não há maneira mais simples de dizer isto, os seus livros e, mais uma vez, é literatura que me leva a aprender, sempre, e que me deixa também um certo travo de nostalgia no espírito, que se prende com uma emergência do desaparecimento de um mundo que já foi ordenado, justo e ético e se vai transformando noutra coisa, bem mais deprimente.
Agosto
Berta Isla, Javier Marías - estou lentamente a reiniciar-me em Javier Marías, de que não gostei de Os enamoramentos. Este livro absorveu-me, gostei do registo e perdura na minha memória. Seguir-se-á Tomás Nevinson, sem dúvida. O escritor terá outras oportunidades, está prometido.
Setembro
O Sino da Islândia, Halldór Laxness - eu gosto sempre de livros cuja ação decorre na Inslândia, essa terra de extremos onde sonho ir um dia. Laxness é um mestre da Literatura. É muito imaginativo na tessitura das suas histórias, revelando um sentido de humor inesperado e um estudo da natureza humana que é inspirador. A bondade está presente nos seus livros como as flores que nascem na adversidade, mas também a resistência, o orgulho, a convicção. Lá está, não será um escritor para o qual todos estejamos prontos, mas é maravilhoso. Aventurem-se...
Reflexos num olho dourado, Carson McCullers - uma obra breve com a intensidade das tragédias clássicas, um enredo que cresce como massa fermentada, numa tensão crescente, que só pode acaber em... tragédia. O livro deu origem a um filme, que ainda não vi, mas pus na lista.
Outubro
A arte de driblar destinos, Celso Costa - vencedor do prémio Leya, lê-se num fôlego. É leitura muito agradável, um relato sobre as memórias do autor, criado num certo Brasil rural e que acabou por se tornar professor, inspirado e inspirador. Gostei muito.
Mais que mil imagens, António Mega Ferreira - alguém fica surpreendido? Foi um dos títulos do autor que persegui com mais vontade, até o conseguir a preços que não implicasse ter de doar um rim. A ideia do livro parte da leitura de imagens que interpelaram o autor: pintura, cinema, escultura, fotografia. Sabendo nós o homem de cultura e erudição que Mega Ferreira foi, obviamente que a leitura não me desiludiu. Recomendadíssimo. É maravilhoso.
Daqui deste lugar, Inês Silva - relato de viagem de mota, pela N2, escrito por uma amiga. É um opúsculo muito bem escrito, que se lê com gosto, em especial para quem já percorreu a mítica estrada.
Novembro
O coração é um caçador solitário, Carson McCullers - é um livro sobre a morte da esperança. É um clássico que todo o leitor por convicção deve ter no seu currículo... se assim o entender, que os livros não são os evangelhos. Recomendo muito, mas não para refrigério, assim mais para nos mantermso alerta e conscientes.
Um cavalo entra num bar, David Grossman - Grossman é um escritor que estou a começar a conhecer. Este é um livro duro, triste, nostálgico e infinitamente belo.
Vidas escritas, Javier Marias - o livro traz-nos pequenos relatos de episódios biográficos de escritores conhecidos. É interessantíssimo. Inclui uma parte apenas sobre mulheres e outra com a reprodução de fotografias e postais da coleção do autor que retratavam alguns desses escritores. É muito interessante e nele cruzei-me com algumas das referências que constam do livro do António Mega Ferreira.
Os peixes também sabem Cantar, Halldór Laxnesse - é ler o que se disse atrás. Ainda mais bonito que o anterior.
Dezembro
Limpa, Alia Trabuco Zeran - ali com ecos da Canção Doce, de Leila Slimani, mas diferente e também muito bom. É um livro triste, poderoso, intenso e dramático. Recomendo bastante.
Tudo é Rio, Carla Madeira - bastante badalado, como sabemos. É de ler sem interromper. Tem um final supreendente, é bonito e esperançoso. Só ali no início é que achei que poderia ser um bocadinho menos, acho que quem já leu, me poderá perceber.
Lincoln Highway, Amor Towels - terminado já no nascer de 2024, mantive com este livro uma relação esquizofrénica, primeiro mergulhei nele vorazmente, depois cansei-me da extensão, no fianl reconciliei-me com ele e acabei por gostar mesmo muito, Estive para me zangar com o autor e com o Obama, mas estamos bem, agora. Towels é grande escritor. Apostem neste livro.
Em suma, aquele graal dos 52 livros, não foi alcançado. A resolução para 2023 foi ler 15 páginas diárias (em média), consegui 25 páginas por dia (é verdade, somei e dividi, há patologias mais graves e perigosas).
Para 2024, a meta é de uma média de 40 páginas por dia, que se não for para superar o que já fiz, nem vale a pena chamarem-me.
Um Feliz Dia de Reis e um 2024 cheio de livros.