Calendário do advento... a partir do dia 9 de dezembro #1
Tinha esta ideia, que era tão boa: a partir do dia 1 de dezembro, faria um calendário do advento com livros recomendados para o Natal e para quem quisesse. Depois a minha vida é como aqueles poemas da adolescência: "a minha vida é como um carro sem travões/ que me atropela como se eu tivesse dois corações", e não consegui. Mas, como sou teimosamente otimista, ou leviana, ou sem noção, ou acredito mesmo que vale sempre a pena, mesmo quando sou uma mulher pequena, achei que podia fazê-lo à mesma, a partir do dia de hoje.
Até ao famigerado ano de 2020, fazia a àrvore de natal no dia 8 de dezembro. Porquê? Normalmente, havia muitos testes para corrigir nesta altura do ano letivo e a partir deste dia já ninguém calava os meus filhos. Era por isso...
Já há Natal por todo o lado. Aliás acho que podíamos despachar este ano mais cedo e fazíamos o Natal a 25 de novembro e a passagem de ano a 1 de dezembro, mas já deixámos passar a oportunidade.
Um livro pode recomendar-se quando um homem quer, uma mulher deve lutar pela igualdade de direitos, portanto também recomendo quando me apetece.
Vou fazer como as crianças com o calendário de advento, como cheguei atrasada, como os nove chocolates todos de uma vez, ou seja, deixo aqui nove sugestões de livros para ler, para oeferecer, para comprar se for como eu e se achar que é mesmo importante acrescentar a prateleira dos livros que ainda não leu, para equilibrar a estante, que um livro é muito melhor que qulquer bibelot e fica muitíssimo bem em qualquer reunião ZOOM (e elas estão para durar). O compromisso é recomendar livros de que ainda não tenha falado aqui no blog
1º
Os Loucos da Rua Mazur, Joaõ Pinto Coelho
À partida, será melhor que os do José Rodrigues dos Santos, é mais pequeno de certeza e também é mais barato. A verdade é que é muito bom e baseado num caso verídico e já que o Holocausto anda por aí como tendência...
2º
Contos, Gabriel García Márquez
Conheci Gabriel Garcia Marquez precisamente através dos contos. Este volume reúne os contos que o escritor tinha publicado em vários volumes. É volumoso, causa tanto mpacto como um volume de José Rodrigues dos Santos, mas é mais literatura. É literatura muito a sério, com a pitada de realismo mágico que fez deste escritor um amigo para a vida. Faz parte do Plano Nacional de Leitura e é de confiar nessas pessoas, pelo menos a responsabildiade é grande.
3º
Pantaleão e as visitadoras, Mário Vargas Llosa.
É um livro maroto, acho eu que melhor que as sombras todas que se têm publicado por aí com rostos de mulheres de batom vermelho em êxtase muito pouco cristão. Além de maroto, é muito, muito, muito engraçado. Deus sabe como precisamos de rir. Além disso, Vargas Llosa fica bem em qualquer lista.
4º
As pequenas Memórias, José Saramago
É importante trabalhar com a prata da casa, neste caso, é mais com o diamante. Nunca escondi que venero o escritor José Saramago. É tão genial. Recomendo este para que parem de dizer que o nosso Zézinho não usava as vírgulas. Tipo de observações literárias que me faz enumerar insultos sem vírgulas, mentalmente... em voz alta, respondo com muita calma e atiro com uma explicação técnica sobre a impossibilidade de lermos um texto sem vírgulas. Eu sei que há gente que acha que sim, mas não, não. Não sei porque é que não tem o carimbo do PNL.
5º
Contos, Eça de Queirós
Também cheguei a Eça de Queirós através dos contos. Um conto em especial, "O Suave Milagre". Li-o tão nova, comoveu-me tanto. Vinha num livro castanho muito formato A3 que uma tia freira deu ao meu pai. Era o único livro que havia lá em casa. Trazia também a história de Benvenutto Cellini e depois vi uma estátua dele na ponte em Florença e fui feliz. Enfim, os contos de Eça de Queirós dão-nos uma formaçãozinha em humanismo. Recomendo também o "Frei Genebro". Está no PNL, logo é uma leitura/presente que fica bem.
6º
A fada Oriana, Sophia de Mello Breyner
Foi o primeiro livro que li e lembrei-me dele quando falei em humanismo. É uma pérola. Só por causa disso, vou relê-lo. É tão bonito. Gosto tanto da Oriana e fiquei tão aliviada por ela ter conseguido salvar a velhinha (alerta spoiler).
7º
Gaspar, Belchior e Baltasar, Michel Tournier
Sim, é verdade, é a história dos reis magos. É tão maravilhoso este livro. Emprestei-o a alguém que não mo devolveu e o pior é que não sei quem foi (se me estás a ler e tens o meu livro, devolve-mo, gosto tanto dele). Antes de o Vasco Palmeirim ter escrito a letra da canção "Santiago, o quarto rei mago", Tournier tinha escrito este romance. Tem um arzinho de natal e é muito, muito, muito, bom. Leiam primeiro, ofereçam depois, não emprestem.
8º
O silêncio do mar, Vercors
Ora cá está a 2ª Gurra Mundial de novo. Li este livro em francês, leitura obrigatória no secundário. Não percebi metade, acho eu, mas ficou aquela imagem de alguém que se unia pela música e que falava contra um muro de silêncio. Acabei de o comprar para ler em português e tenho a certeza que vou gostar de novo. Como aliciante extra, é muito pequenino e e conta para a estatística como os romances de José Rodrigues dos Santos. Ainda vai a tempo de dizer que leu um livro este ano, nem tudo se perdeu.
9º
Tess dos D'Ubervilles, Thomas Hardy
Como acredito que ninguém aguentou ler isto até aqui, vou permitir-me (se permita!) a falácia. Não li. Era leitura de inglês no secundário. Mas eu não consegui, juro, eu percebia muito pouco o inglês. Vi o filme com um grupo de colegas. Lembro-me muito bem. Acho que o livro também deve ser bom. Quero ver quem é que me denuncia, ou seja, quero ver quem lê textos até ao fim. Se podemos fazer isto no facebook, aqui também deve dar. Não é preciso partilhar com 200 contactos e a pobreza no mundo vai continuar e a nossa pouca sorte também.
E pronto. Comemos os nove chocolates do advento. Leiam muito, é mais barato que outras coisas e tem menos efeitos secundários e os que tem não são maus. Mandem-me ler em vez de escrever tantos disparates.