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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Livros para adiar o fim do mundo

06
Mai21

Da saúde mental

livrosparaadiarofimdomundo

O papel da escola preocupa-me. Não por causa daquilo que não faz - porque faz muito -, mas por causa daquilo que precisa de ser feito e que não pode ser resolvido pela escola e na escola. 

Apesar de os alunos passarem muito tempo na escola (é mesmo muito) e de toda a gente parecer querer que os alunos lá passem mais ainda, vai germinando em mim uma certa ideia de impotência que me sufoca. E, como um náufrago, vou esbracejando para me salvar a mim e à minha obra, como o "épico de outrora", tentando que esse tempo seja significativo para estes jovens, procurando que eles se recentrem na escola e que a vejam como um lugar privilegiado de desenvolvimento, de conhecimento, de experiências e da troca delas, enfim, um lugar onde crescem.

Esta reflexão vem a propósito de uma atividade que desenvolvi com os meus alunos. A propósito do estudo da lírica de Camões, pedi aos meus alunos que saíssem da sala de aula, munidos do seu caderno de português, que procurassem, no exterior (porque estava um dia de sol maravilhoso), um lugar sossegado e que escrevessem uma reflexão sobre a sua vida, à imagem do soneto "Erros meus, má fortuna, amor ardente". Dei-lhes tempo suficiente, aceitei que não quisessem ler o texto perante os colegas (sou uma fácil com os alunos, talvez já esteja numa fase em que já não me sinto mãe e me sinto mais avó) e, no final, eles entregar-me-iam os textos para eu ler/corrigir.

Daqui resultou o verdadeiros agridoce.

Quando regressaram às aulas, os alunos vinham eufóricos, felizes, alguns deles disseram que se tinham comovido com o que escreveram, outros chamaram-me a atenção para o facto de o conteúdo do texto ser confidencial, um ou outro pediu para ainda terminar, outro chorou, porque o texto despertou memórias dolorosas. Enfim, do ponto de vista pedagógico, estou convencida que a atividade foi um sucesso.

A amargura veio quando li os textos. Na sua esmagadora maioria, são textos de gente que está triste, que encara a vida - a vida de quem tem dezasseis anos, de quem é jovem, bonito, de quem ainda só começou a caminhada, de quem tem um leque enorme de possibilidades à sua frente - como um arrastar de horas rotineiras, entediantes, vazias. Em alguns casos, é notório o desânimo - na sua vertente etimológica, sem anima.  Noutros ainda, há uma angústia existencial que está para lá da angústia existencial que marca os jovens. É um tudo nada mais preocupante, porque é tristeza, assim sem mais nada, tristeza. E eu fiquei triste com eles. Outra coisa que senti de forma pungente foi a necessidade de serem ouvidos, de lhes darem atenção, de os deixarem verbalizar os seus receios e o seu tédio. Outra ainda foi a transformação da escola - ensino secundário, neste caso - como um mero trampolim, depois de conseguida a tão almejada média, para o ensino superior. Só isto. E a escolaridade fica refém de um número. E os meus alunos não leem, não veem filmes, não passeiam, não convivem, ou como alguém me disse, nem têm furos que lhes deem uma folga de tanta escola e de tanta preocupação, só se preocupam com a média e o teste (reconhecidamente mais do que os seus professores). E eu fiquei preocupada, muito preocupada com os meus meninos.

Intimamente prometi-lhes aulas interessantes, abertas, divergentes, uma escola mais apelativa, mais bonita, que os deixe mais felizes... Vamos lá ver se sou capaz. 

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