E depois de tudo... o otimismo
O otismo permite-nos viver e, às vezes, é-nos oferecido mesmo quando estamos a precisar dele.
À entrada de um restaurante, quando ia a entrar, reparei que um casal se preparava para sair e afastei-me para lhe dar passagens. Eram ambos muito sábios - fica a metáfora, porque não me ocorre nenhuma outra palavra para me referir à sua idade - ela já muito frágil, ele ainda capaz de olhar por ela. Ela saiu primeiro, apoiando-se ora na porta, ora na parede, desceu o degrau da entrada com muito cuidado, aquele cuidado de quem tem muito cuidado para não cair. Era tão bonita, cabelo de neve, com o lenço à volta do pescoço, ainda cheia de galhardia. E de onde vem o otimismo? Disto, ele sempre a ampará-la, a pegar-lhe delicadamente no braço, a cuidar dela, também com medo que ela caísse. Se é possível cuidarmos uns dos outros, assim com amor até esta idade, vale a pena.
Mais tarde, uma música do Bruce Springsteen, triste como a vida, "you're missing", de uma beleza como só a arte nos pode dar, deu-me duas certezas: se um acontecimento como o 1 de setembro em Nova Iorque pode dar origem a uma canção desta beleza, então há esperança para o mundo e, segunda, tenho de sentir-me otimista, na minha vida ainda não há nenhum vazio deixado por alguém que me deixou órfã para sempre.
Sinto-me otimista.