É Outono - a minha estação favorita.
É Outono, a minha estação favorita, enquanto não chega a Primavera... Afinal eu gosto de todas as partes de As Quatro Estações de Vivaldi.
Hoje é/ foi Dia de Todos os Santos. Foi sempre das festas litúrgicas a minha preferida. Recordo a minha infância, quando saía da escola às sete da tarde/ noite e vinha de bicicleta para casa, ao longo do percurso havia um cheiro a "brindeiras doces" - era ssim que pronunciávamos - pela noite fora. Em quase todas as casas se faziam as broas caseiras. A minha mãe acendia o forno nesse dia. Quando saía para a escola, já havia um alguidar de barro com as broas amassadas. Quando chegava, junto à lareira, estava o tabuleiro de madeira, tapado com uma manta para as broas se manterem macias. Eram untadas, limpas, depois de saírem do forno com um trapo velho, mas limpo - calma ASAE - embebido em açucar e manteiga, ou azeite, e ficavam húmidas, peganhentas, doces, como esse passado que resgato hoje. Não era muito comum ir ao pão por Deus, tinha muita vergonha. Mas recordo o entusiasmo com que ia com os meus pais, a pé, a casa de todos os vizinhos. Em todas as casas, a mesa posta para partilhar o pão por Deus: as broas - sempre - os tremoços, as batatas doces assadas, as nozes, os figos secos, a água-pé, que os adultos nos deixavam beber.
Hoje, para os meus filhos, continuo a fazer as broas, outra receita, no forno da cozinha, porque, um dia, quando for memória para os meus filhos, quero que eles tenham estas mnemónicas, nesta altura, a mãe fazia... Hoje, a minha mãe espera pelas minhas broas. Um dos meus irmãos, todos os anos pede uma fornada só para ele. Ainda nunca aconteceu, mas é melhor tomar nota que o tempo é traiçoeiro.
Fui feliz, aqui, agora, a pegar no testemunho e a avançar para a etapa seguinte que a vida é isto: uma corrida de estafetas.