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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

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Livros para adiar o fim do mundo

02
Mai21

Foi quando fui mãe que aprendi a amar a minha

livrosparaadiarofimdomundo

Este é um texto difícil de escrever e não há motivo para que o seja.

Custa-me muito escrever sobre efemérides, sobre dias de... Mas o dia da mãe é outra coisa. Que amo a minha mãe, não há aí qualquer dúvida, até porque ela é mulher de se fazer amar tal a forma como se dá aos outros. Mas como verbalizar isso? Escrever que ela é a melhor mãe do mundo? Não, ela é o meu mundo melhor. Dizer que ela apoia, acarinha, suporta, cuida e ama? É muito mais do que isso, isso todas fazem - pelos menos as que são mães. Dizer que ela está sempre lá? Ela está lá e cá, está onde precisarmos dela, mas também é mais do que isso.

Contemplando a minha mãe, obrigo-me à humildade: nunca serei tão boa mãe como ela. E é a olhar para ela com os meus filhos que a defino melhor. A minha mãe foi também a mãe dos meus filhos e, numa fase profissional difícil, foi até mais mãe deles do que eu. Houve uma altura em que tive de trabalhar à noite, sem marido em casa e com dois filhos, um com onze anos e outra com cinco, com um horário até às 23:00, que fazer a duas crianças? Ficarem com os avós, desde que saíam da escola, até ao jantar, até aos banhos e até dormirem. Durante quatro anos, vi os meus filhos durante cerca de hora e meia por dia, levava-os à escola, um entrava às 08:20 e outro às 09:00. Nesse curto intervalo ficava à porta da escola, no carro com a minha filha, e lia-lhe histórias até ser hora de ela entrar na escola. Depois era a avó que os ia buscar. Para poder estar com eles esse curto tempo, também eu ia dormir a casa da minha mãe. O meu pai dizia que às 23:00 ela punha mais lenha na lareira e, quando eu chegava, tinha sempre um chá quente ou leite para tomar antes de dormir e comer qualquer coisa. Para a minha mãe, o amor sempre se demonstrou através da comida e do aconchego perante o frio. Quando estudava em Lisboa, os telefonemas eram para saber se eu tinha comido e se tinha frio, apesar de a residência universitária ter aquecimento nos quartos. Depois de me garantir calor e comida, ia deitar-se e recomendava-me que não lesse até tarde. De manhã, fazia pequeno-almoço para mim e para os meus filhos. É isto que define a minha mãe. Mas é também o facto de os meus filhos lhe telefonarem por qualquer motivo, por causa de um teste, por causa de uma boa notícia, por causa de um namoro, sem motivo, porque sim, porque não. Também a define o facto de, se ela quisesse, por eles, teria sempre o seu prato à nossa mesa, assim como à mesa de qualquer neto. Também a define uma certa viagem a Roma, em que à noite, cansados de tanto quilómetro percorrido, a minha filha lhe massajar os pés, e o meu filho lhe explicar os rudimentos da história de Roma, enquanto visitávamos o fórum romano, ou a minha filha ter pedido a um padre que a confessase na capela Sistina, ou de termos assistido a uma missa de quarta-feira de cinzas na basílica de S. Pedro, porque sabíamos que era isso que ela queria.

Perante a minha mãe, tenho muito medo de não conseguir ser boa mãe, o modelo é incomparável. O que espanta na minha mãe é o facto de a mãe dela ter sido uma mãe, de certa forma, fria e talvez egocêntrica e, por um acidente genética, a  minha mãe é a pessoa mais generosa que eu conheço. Ela é o núcleo da célula que é a minha família.

Quando fui mãe, percebi com clarividência, uma espécie de epifania como a de S. Paulo, o meu amor por ela passou a ser feito também de admiração e de uma quase sensação de derrota, perdi, nunca chegarei tão longe como tu, falta-me essa abnegação, falta-me essa grandeza, falta-me essa generosidade absoluta. 

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