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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

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Livros para adiar o fim do mundo

09
Fev25

Fui ao cinema: Conclave... ensaio para um regresso

livrosparaadiarofimdomundo

Este Post é um ensio para um regresso... aqui, à escrita.

Embora tenha escrito pouco, muito pouco, as frases fervilham dentro de mim, fermentando aquilo que penso, aquilo que vejo, aquilo que vivo, aquilo que me interpela.

Tem sido um cansaço, uma drenagem de energia que me impede de concertar o que é preciso para vir aqui. 

Vim hoje. Por causa de um filme, que teve um forte impacto em mim.

Pois fui ver Conclave, protagonizado por Ralph Fiennes. Era um filme que queria ver no cinema e, depois de o ter visto lá, percebi que o filme precisa da grande tela, da imersão, da atenção plena, do som da sala de cinema, até para que os silêncios sejam mais opressivos, possam dizer tudo aquilo para que foram criados. Assim, o primeiro incentivo vai para isto: ver o filme no grande ecrã.

As primeiras cenas do filme prenderam-me logo e, penso eu, estableceram as tensões presentes no filme e as que o filme pretende explorar. Tudo começa com a morte do papa, jacente no seu leito de morte, cercado de solenidade, orações, ritualizações e a dor de quem o amava e com ele partilhava tempo e amizade. Mas mesmo um papa vê-se reduzido à humanidade, é um corpo pesado, que é preciso colocar em cima de uma maca, que é preciso empurrar por um corredor e transportar numa ambulância, que é preciso colocar num saco... o papa, desinvestido dos símbolos, é um corpo, volta a ser pó. Para mim, essa ambivalência é leitmotiv  no filme: os cardeais são, antes de tudo o mais, muito homens, muito dominados pela ambição, muito manipuladores, há muita política no meio da solenidade do conclave. Os cardeais acendem os seus cigarros, comem com gosto, alimentam discórdias e inimizades, são pequenos no meio do ambiente grandioso, profundamente ritualizado, secreto e misterioso da Cúria Romana. São homens a querer equiparar-se a deuses, ou melhor a um só deus, ou melhor ainda, ao supremo poder do papado, ainda que se lhe refiram com jugo, peso, cruz, fardo, que, na verdade, querem muito carregar.

O filme vive muito da interpretação de Ralph Fiennes, atormentado, esmagado pelo peso do papel que tem de desempenhar, é o decano e deve conduzir o conclave. E explica metade da força do filme. Ainda não vi nenhum dos outros fortes candidatos, mas já penso que Fiennes devia trazer o prémio, um prémio, qualquer que ele seja. É um grande ator. Curiosamente, vi, várias vezes o Fiennes de Grande Hotel Budapeste,  o que não tem nada de mal, antes pelo contrário, há algo de histriónico na Cúria, há algo de sarcástico e irónico no Cardeal Lawrence, que apreciei ver a espreitar de vez em quando.

O filme vive ainda da fotografia magistral, dos planos, da grandeza dos espaços do Vaticano, do ambiente claustrofóbico da Casa de Santa Marta e da Capela Sistina, dos grandes planos das maõs crispadas das persoangesn, da tensão física, do que se tenta reter e controlar, dos silêncios e da música a marcar momentos específicos, mas mais de silêncio. Tudo se conjuga para criar um ambiente denso e tenso, onde todos parecem manobrar na sombra, com um alacance inesperado, até o papa morto.

Outro momento do filme que destaco é o da homilia de abertura do conclave, tão atual, com uma mensagem na qual, parece-me, nunca é demais insistir, mais a mais nos tempos que vivemos agora. Podia ser um mantra a recitar ritualisticamente, mal não faria, a ideia de que as certezas são perigosas, isto num meio que vive dos dogmas. A dúvida como necessidade, aliás as personagens que nos são mais simpáticas são as que mais duvidam. Por fim, afinal tudo pode ser extremado, até na igreja, o discurso de ódio e de intolerância está por aí, ratificando a excitação do medo, da necessidade de voltarmos a uma espécie de pureza incial - que, na verdade, nunca existiu - para nos protegermos da ameaça do outro, do estrangeiro, do estranho.

Enfim, eu gostei muito, pareceu-me um filme poderoso, intenso, bom cinema, embora concorde com alguma críticas que têm visto o plot final como um pouco rebuscado, que será, mas o resto do filme aguenta bem esse claudicar. Ver é o melhor remédio. 

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