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Fev14
Horóscopo de novembro (Fim)
livrosparaadiarofimdomundo
Não nos deixar cair em tentação… masporquê? Quedas, dores, fracassos e tentações, as faces do autoconhecimento. Quandocaímos em tentação, sabemos de antemão que vamos sofrer. E quando passamos avida sem cair em tentação, não sofremos de coisas bem piores, desta náusea queo nosso poeta maior tão bem versejou? Como quero sofrer? De abulia? Ou conhecerum vislumbre de felicidade, mesmo que depois seja a queda livre? Cair em tentação,segundo a maga que lhe lia o destino, era subir uns degraus na Grande Montanha,mas pelo caminho mais espinhoso e doloroso. Ora bolas! Melhor os conselhos paraseguir uma alimentação saudável do que este somatório de clichés. Ah, sim?! Entãoporque continuas a a ler? Porque assim subo a Grande Montanha a voar, pois nãohei de errar mercê destes valiosos conselhos. Porque há os que gostam decaminhar calmamente até lá acima. Os que caem na tal tentação arriscam avertente escarpada e as quedas livres. Parece bem mais picante. Pois que seja –continuava a leitura da previsão – a verdade é que todos os caminhos vão dar a Roma,ou seja, ao Céu. (!?) O Mago recorda-lhe que tem tudo latente em si. Era muitosábio aquele Mago, ou seria apenas um ente atento que sabe que é sempre assim? Nãohá circunstâncias certas nem perfeitas – verdade – há uma tomada de consciênciaque acontece em qualquer altura da vida. A sua tinha-a a levado ao horóscopo,ou tinha sido o horóscopo a levá-la à tomada de consciência? Parece que aepifania se propiciava nos casos de dor forte, circunstância que levafatalmente à compreensão de que é preciso querer mais. Ora ali estava a chaveepigramática do seu horóscopo de Novembro, ela queria mais, a mediania não erapara ela, vamos, vamos, vamos (estava assim na previsão).
Finalmente, a previsão que ela esperava que viesse ao seu encontro: atençãoao dia de hoje, aguarda-a uma surpresa inesperada – claro que sim, se fosseesperada não era surpresa, toda a gente sabe como é difícil fazer festas surpresa.E ela, com algum ceticismo, pôs-se literalmente a olhar em volta de soslaio comose houvesse por ali uma surpresa guardada por alguém a pontos de saltar etornar real aquele horóscopo tão simpático que havia de colorir o seu domingocinzento, a sua vida de mediania, de compensar a sua opção pela comida saudável,a ousadia em ter deixado de fumar. Sim, afinal havia alguma justiça cósmica eestava a ser direcionada para si. Os planetas alinhavam-se, resolviam as suastensões, as quadraturas eram as mais propícias, a Lua, estava a entrar na casade Aquário, Saturno recuava e Vénus triunfava. Era hoje! Mas não para já que osfilhos estavam a entrar em casa e o marido também, portanto o cosmos teria queesperar para corrigir a sua trajetória.
Mais tarde, nesse domingo, teve que dar razão ao cosmos: sem que elapedisse, os filhos tinham posto a loiça na máquina e tinham-na posto a lavar eela não teve que dizer nada. Nunca, nunca mais desdenharia o horóscopo. Ansiavapelo horóscopo de Dezembro.