O ministério da felicidade suprema, Arundhati Roy vinte anos depois
Editora: Asa
Páginas: 464
Género: romance histórico/romance de aventuras
Arundathi Roy ganhou o meu coração com o seu primeiro livro, O Deus das Pequenas Coisas, um romance brutal sobre a Índia, sobre o preconceito, sobre dois irmãos, sobre uma família, sobre a arbitrariedade.
Em 2018, saiu este Ministério da Felicidade Suprema, vinte anos depois da publicação do primeiro romance. Roy não publicou nenhum outro neste lapso de tempo. A expectativa acerca deste lançamento era muita, mas também havia muito receio. Quando amamos um escritor, temos sempre medo que ele nos desiluda, ou que seja aquele tipo de escritor que descobriu uma receita vencedora e que se deixa ficar nessa zona de conforto, publicando "sempre o mesmo livro", como as novelas da TVI.
Sim, sim, mas Roy não fez nada disso. Deu-nos um outro romance grandioso, que se lê obsessivamente - como eu gosto - que nos desperta a curiosidade - como eu gosto, fiquei a saber tanto sobre o terceiro género na Índia, porque este é mais um daqueles livros que me atira para pesquisas intermináveis - que nos forma e nos molda - como eu gosto, confirmei que, em alguns pontos do globo, os muçulmanos são perseguidos e massacrados - que nos desenvolve a consicência social e global - como eu gosto e, à conta disso, fui tentar perceber o que se passa afinal em Caxemira, um vale paradisíaco entalado entre três países, uma zona tampão importantíssima para o equilíbrio geoestratégico, mas cujas consequências atiram os seus habitantes de maioria muçulmano para um verdadeiro inferno.
Mas não é apenas disto que se tece este romance, é também do desenho de personagens inesquecíveis, como Anjum, dilaceradas entre a sua poesia intrínseca, a sua humanidade sublime e o preconceito, a violência, a miséria e a tragédia de se viver na Índia, onde crescem os nacionalismos exacerbados e onde a maioria hindu vai esmagando outras etnias e outros credos. O romance vive ainda do sonho e do fantástico, da conjugação de circunstâncias inesperadas, do cruzamento de vidas que pareciam afastadas anos luz umas das outras e, no fim, deixa na boca um travo doce de esperança, de superação, de encontro e de redenção, de pureza e bondade no meio do caos, da arbitrariedade e da morte.
É mais um dos livros que integro na categoria dos livros imprtantes, daqueles que nos sacodem e nos despertam.
Leiam, vão ver que doi, mas que o alívio da dor corresponde, de certa forma, a um renascimento.