Post sem livros lá dentro #3
Sei.
Há um outro tempo, outras memórias, que estão em mim, que fazem parte de mim. É preciso ressucitá-las e deixar que permaneçam.
Os olhos fechados com o sol a bater-lhe de fora, deixar o olhar inundado de luz e o calor espalhar-se pelo rosto.
Deambular pela casa vazia, silenciosa e sentir na exatidão de cada objeto que o mundo está concertado.
Ouvir o silêncio.
Ouvir o chilreio doido dos pássaros.
Ver a natureza numa festa de cores, numa explosão de texturas e de cheiros.
Alargar a vista pelo horizonte, amplo e inspirar a distância.
Saber-me segura, saber-me longe, saber-me salva.
Os pequenos prazeres, pequenos, pequenos, colocar a flor na jarra, abrir o livro, sorver o chá, afastar as cortinas, encolher os joelhos, sentar-me e deixar o pensamento fugir.
Distrair-me, perder-me, afastar-me e depois regressar e saber que por um momento não me assiti.
A mão na minha, um toque de pele, o calor de outra presença que me devolve ao sítio onde posso ser.
Esquecer.
Esquecer.
Esquecer.
Chegar a casa.
Regressar, devolver-me, viver no meu tempo, viver na minha existência.
Centrar-me. Tornar-me o centro de mim mesma.
Arranjar-me, curar-me, sarar.
Sei que é possível.
Concentrar-me.