Post sem livros lá dentro - Insólito e álcool gel
A propósito de percorrermos a N2 de carro, paramos em Lamego para tomarmos um café. Manhã sem café não é dia a começar.
O café era banal e o café era normal.
Antes de partirmos para uma nova etapa, a visita à casa de banho. Como as crianças, é preciso ir para depois não andarmos a pedir para parar, sem opções. Muitas vezes obrigados a beber água sem ter sede. Mais um café para o pretexto.
De maneiras que houve uma ida à casa de banho. À entrada os novos gestos: não tocar na maçaneta, empurrar a porta com os ombros, as mãos no ar como se fosse m cirurgião num epsiódio da Anatomia de Grey. Enfim entrada no espaço exíguo, átrio do lavatório onde estava uma senhora a ocupar o espaço. A senhora tinha a camisola levantada, assim que me viu, pediu-me: "pode abotoar-me aqui isto, que eu não consigo com esta mão". Era o botão das calças. Nem hesitei, peguei nas duas abas das calças e apertei o botaõ, era daqueles de enganchar, ao mesmo tempo que a senhora me incentivava: "isso, isso, assim, assim". As minhas mãos tocaram a pele da senora, macia. Um corpo estranho ao meu toque. O agradecimento, sincero, simples, com a maior naturalidade.
Depois de fazer o que tinha de fazer, o horror de constatar que não havia sabonete, nem álcool gel.
Saí, tentando não tocar em nada. À saída do café, gastei o máximo de álcool que pude e desinfetei as mãos e ficou em mim este efeito de estranheza.
Acompanhou-me esta reflexão. Ajudei a senhora sem repugnância, com a mesma naturalidade com que ela me pediu. A COVID-19 não levou a melhor. Não desatei aos gritos, não recusei a ajuda a quem a pedia. Mas ficou esta impressão de estranheza e, pelo sim pelo não, dei-lhe com mais convicção no desinfetante.
Isto quer dizer alguma coisa? Não sei bem. Posso sempre atirar com o novo normal para cima de tudo isto.