Post sobre livros, mas sem livros lá dentro - melhor dia da semana, melhor hora do dia
As vozes dos livros que li acompanham-me desde sempre. Pequenas vivências fazem eco em textos que li. Os livros ensinam-me a interpretar a vida e não o contrário.
Hoje, chegada a casa depois de uma semana de trabalho - intensa como parece que têm de ser as semanas de trabalho - a casa posta em sossego, sozinha, lareira acesa, chá na mão, ocorreram-me textos lidos: um poema do barroco que se refere ao quotidiano, uma mesa posta com torradas e manteiga, chá num bule, enfim a quietude do conforto de uma casa. Outro, reminiscência mais dramática, versos de Torga acerca das fragas a onde regressa. E nestes versos vejo refletida a minha chegada a casa neste fim do dia. É o regresso de mim a mim mesmo e sei que alguém também já disse isto e não me lembro de quem, nem onde li, mas li... talvez Pessoa, na carta sobre a génese dos heterónimos, sim foi aí mesmo.
Enfim, ter um lar numa casa é a supremíssimo, íssima, íssima - Campos dixit - felicidade. Constatação que me leva para o remorso de saber que nem toda a gente tem como sentir este máximo prazer com o mínimo de artifício e vou ao poema de Vinicius de Morais e peço piedade para estes e para todos aqueles que, podendo usufruir dele, procuram a felicidade noutros sítios, senhor tende piedade deles.
E daqui, estes pensamentos vadios, pícaros, poder-se-ia dizer, chego a esta quase tristeza, como escrever quando outros o fizeram tão bem antes de mim, como medir palavras quando outros encontraram o metro, no sentido grego do termo. Assim se perde, quem sabe, uma vocação tão bonita, que não pode ser aproveitada, porque nasci tarde de mais, porque como disse Autran Dourado, depois dos gregos nada se fez de novo. Ou posos sempre fazer, não plágio, mas paródia dos outros e jogar esse jogo tão interessante de brincar às enciclopédias de cada um.
Com isto tudo, escrevi umas coisas sobre coisa nenhuma - isto não sei se alguém já conseguiu.