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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Livros para adiar o fim do mundo

20
Jan21

As migalhas são de graça

livrosparaadiarofimdomundo

Estávamos nós ali atrás a ansiar pela passagem de ano, acreditando mesmo, mesmo que doze badaladas seriam com uma rajada de metralhdora sobre tudo aquilo que nos custou no ano mais longo de que muitos de nós têm memória. Afinal quem vivia mal, passou a viver pior, qum vivia bem, passou a viver pior - é reconfortante acreditar que foi assim - quem vivia muito bem, pelo menos não pôde sair de casa. 

E vem 2021 e entrou a pés juntos, esse bruto: morreram Carlos do Carmo e João Cutileiro, tivemos uma vaga de frio que nos ia congelando a alma, os americanos estão mesmo doidos e os mais doidos invadiram o Capitólio e agora os americanos têm de se proteger dos americanos God doesn´t save America, o estupor do vírus não nos largou e ficou ainda mais virulento, morreram em Portugal nos primeiros vinte dias do ano mais de dois milhares de pessoas só por causa desta pandemia que está cada vez mais pandémica, voltamos todos a confinar, está tudo fechado outra vez - estou a exagerar, eu sei - fala-se de novo no encerramento das escolas e a minha alma fica mais gelada do que ficou por causa da vaga do frio, temos medo, muito medo - estou a exagerar, eu sei, há gente que não tem medo nem vergonha, nem noção, nem senso de noção, mas não posso ir por aí, senão ninguém me segura e eu sou uma senhora - temos pouco orgulho do nosso país, fianlmente percebemos a importãncia do SNS e porque é que alguns setores da sociedade não podem ser privatizados. É difícil, até para uma otimista patológica como eu sou, manter-nos positivos. Ups, agora é mau estar positivo. Rephrasing: é difícil mantermo-nos, chega assim.

Ficam as migalhas: os almoços na sala de professores, com toda a gente a comer de caixinhas, mas com um clima muito simpático, a conversar animadamente, a rir, meu Deus, a rir; a manutenção, a prazo, das aulas presenciais, até gostamos mais dos alunos na quase-hora da despedida; o fim de semana com sol, que deu para ler no alpendre, para cuidar das plantas de exterior e que despertou o desjo de ir ao horto comprar amores-perfeitos e toda a qualidade de plantas que floresçam na primavera - mas não fui, que eu sou cumpridora e faço tudo para manter as escolas a funcionar, faço a minha parte e nem sei se chega; as visitas muito esgarçadas à mãe e ao pai; as refeições em família, a quatro, animadas; a sala de aula com os meus meninos que me recebem sempre com ânimo, doces como alguns conseguem ser; a senhora da banca da fruta, tão humilde (no bom sentido), tão amável, tão atenciosa, que corre a abrir outro saco de cebolas, que pede desculpa por não ter mais coisas de encher o olho; os que dizem que gostam de nós, os que dão a palavra amável, os que são solidários; as anedotas para antologia, como aquele aluno que, tendo faltado por uns dias, quando questionado sobre o motivo da ausência, mentiu, dizendo que tinha sido operado ao apêndice e, ao ver que a professora lhe pedia para ver a costura, disse, na sua ingenuidade (ou não) que se tinha esquecido dela em casa.

São migalhas de um quotidino de chumbo, mas podemos fazer como nos diz o aforismo da pedra, não um castelo, mas podemos amassá-las e fazer um pão e comê-lo com a gana de que nos fala Álvaro de Campos: comê-lo sem tempo de manteiga nos dentes. São migalhas, mas pelo menos são de graça.

02
Jan21

#1/2021 - Torto Arado, Itamar Vieira Júnior: mirar o passado para não perceber o presente

livrosparaadiarofimdomundo

Wook.pt - Torto Arado

Editora Leya

279 páginas

Comprado

Esta primeira leitura de 2021 é devedora de 2020, porque a verdade é comecei ainda em 2020, mas terminei, numa tarde bem passada do dia 1, já a estrear o novo ano literário. Quem leu as minhas resoluções para 2021 perceberá que já cumpri uma nano parte: terminei um livro que estava começado em casa (sou tão ardilosa nestes esquemas mentais). Sabe-me sempre a um regresso a casa ler literatura brasileira, a pátria da minha especialização em Estudos Românicos, mas é sempre um regresso sofrido, porque o povo brsileiro parece votado a um desígnio de sofrimento e privações que nada parece poder por fim, nem a política nacional, nem a internacional, nem a cultura, nem os homens de boa vontade.

A biografia deste livro é já ilustre, começou por ser o vencedor do prémio Leya, foi depois galardoado com o prémio Jabuti e com o prémio Oceanos. Assim sendo, é uma aposta segura, não pode andar tanta gente enganada.

Torto Arado é marcado pela ambivalência: é uma leitura aparentemente fluida - não leve, mas fluida - mas que pesa na alma, se a alma for sensível e humanista, não podendo ficar alheia ao sofrimento do outro; é uma obra que remonta ao passado do Brasil, num período em que a escravatura já tinha sido abolida, mas que persistiu sob outras formas de subjugação, que está na génese dos movimentos dos Sem Terra, que nos é devidamente explicado nas suas raízes históricas, sociais e culturais, porém aponta para o presente e para as muitas fraturas e assimetrias que estão longe de ser sanadas - daí o título do post; a ação decorre no Estado da Bahia, numa fazenda que beneficia dos terrenos férteis irrigados pelas águas fartas de dois grandes rios, mas é centrada nas pequenas roças e aglomerados que foram nascendo do trabalho árduo das mulheres enquanto os homens trabalhavam para o senhor da fazenda; é uma obra protagonizada pelas mulheres, cuja submissão e subjugação é igualmente ambivalente, mas não deixa de equacionar a dureza, a miséria e a insegurança que atormentam igualmente os homens; é no Brasil, mas já foi ou continua a ser em qualquer ponto do globo, já que "sobre a terra há de viver sempre o mais forte" - é preciso descobrir quem o é efetivamente, daí a sua universalidade.

A narrativa conjuga os pontos de vista de duas irmãs sobre a sua história comum: Bibiana e Belonísia, flhas de Zeca Chapéu Grande, o curador do terreiro que dá corpo aos encantados que estruturam a vida espiritual da comunidade da fazenda, negros que se dizem índios para não serem expulsos das terras. As irmãs ficarão unidas por um laço ditado por um acidente de infância, mas também se desunem e voltam a unir por causa de pequenos episódios, mágicos, oníricos, encantados, quotidianos, simples, que ditam as suas/nossas escolhas e caminhos. Todas as personagens partilham uma cosmovisão mágica, generosa, idílica, submissa, mas inocentes dessa submissão, acreditando que o facto de o senhor permitir que tenham a sua roça é motivo de gratidão e desígnio para a sua froma de vida, nem sequer percebendo a sua própria indigência nem a verdade das suas prorrogativas.

Torto Arado ilustra bem o cadinho cultural que é o Brasil, uma herança que não pode ser negada, esquecida, obliterada, justamente porque nos ajuda a perceber algumas das fragilidades do presente deste país, mas também do mundo. O brasileiro tem, desde a origem e mercê das suas raízes índias e africanas, um pensamento mágico, crê nele e orienta-se pelos seus ditames e isso não foi ainda expurgado dos tempos que se vivem no Brasil. Além disso, desafortunadamente, as condições de vida de muitos dos seus habitantes não mudaram tanto assim, as vagas de imigrantes que chegam a Portugal à procura de um lugar de ser são a herança de um povo em êxodo à procura de uma terra prometida, chame-se ela Àgua Negra, Lisboa, ou outra coisa qualquer.

Como os livros dialogam, recomendo, a propósito deste, a leitura de dois outros que se contam entre os livros da minha vida: 

Wook.pt - A Guerra do Fim do Mundo      Wook.pt - Grande Sertão: Veredas

Este tríptico ajuda-nos a compreender e a conhecer o Brasil.

E no fim de tudo... os bons livros!

 

 

 

01
Jan21

Resoluções 2021 - só para cá voltar no fim do ano a ver...

livrosparaadiarofimdomundo

Efetivamente, depois de a Terra ter completado as suas 365 voltas em torno dos eu próprio eixo, somos tomados por esta sensação de recomeço, de que podemos emendar, de que podemos mais e melhor. Eu, a otimista, creio que, se houver um dia no ano em que nos propomos a mais e melhor, esse dia é sempre um ganho.

Em dia de resoluções, as que trago a um blog que está sobretudo voltado para os livros e as experiências ligadas à leitura, estão mioritariamente ligadas a esses asuntos, a outras são de mim para mim, na expectativa de haver um ano em que o balanço me dignifique. Ainda assim, mau grado todas as resoluções naõ cumpridas, renovo este ritual de compromisso para comigo.

Mas vamos às resoluções literárias:

1. Ler todos os livros que tenho começados em casa e que abandonei sabe Deus porquê. Esta á resolução para janeiro (há aqui uma batotazinha, assim vai parecer que leio muito mais...);

2. Ler apenas livros que tenho em casa, comprados e nunca lidos, sabe Deus porquê (volta a haver batotazinha, não me parece que nos próximos tempos vá ter muita disponibilidade económica para comprar livros), esta é a resolução do mês de fevereiro;

3. Ler apenas livros emprestados (aqui é contar com a boa vontade dos meus amigos leitores, que não me tem faltado e que me tem proporcionado excelentes experiências de leitura), esta é a resolução para o mês de março;

4. Ler apenas livros requisitados em bibliotecas (como sou procrastinadora, tenho esperança que até abril me tenha decidido a inscrever-me na biblioteca municipal e a frequentá-la), esta é a resolução para abril.

5. Ler apenas livros comprados em segunda mão, em especial em livrarias solidárias (há aqui seriamente uma preocupação com a sustentabilidade), esta é a resolução para maio.

6. Voltar às resoluções 1 e 2, porque ainda não as devo ter esgotado, além de que vou estar muito infeliz, porque todas resoluções me afastam do prazer enorme de ir a uma livraria e deixar que um livro ou muitos me pisquem oolho e me digam "leva-me contigo", esta é a resolução para o mês de junho;

7. Esperar que os meus amigos, que me vão emprestar livros, tenham bom gosto para comprar livros, esta é a resolução para o mês de julho;

8. Tentar perceber porque é me meti nestas resoluções mensais, quando se nota que já estou aqui a inventar para conseguir chegar até ao fim, de qualquer maneira, em agosto, acho que já mereço ir a uma livraria e ficar lá horas e vir para casa com uma braçada de livros, ou então, pronto, comprar livros para ler no mês de agosto, esta é a minha resolução para o mês de agosto;

9. Ler apenas livros sugeridos nos blogs do sapo, esta é a resolução para o mês de setembro.

10. Ler livros de autores que nunca li, incluindo uma quota para autores portugueses, resolução de outubro.

11. Ler só o que me apetecer, que já me contive o ano inteiro: comprados, emprestados, achados, roubados, o que vier à rede e me parecer consumível, resolução para novembro.

12. Pedir livros como presente de Natal a toda a gente, fazendo oportunamente posts sobre os que quero e partilhando-os com toda a gente que me conhece.

EXTRA: tentar cumprir estas resoluções, que me parecem tão sensatas, só a de roubar livros é que não, pelo meio emagrecer e cuidar melhor de mim. Vai dar certo, afinal o que pode correr mal nestas resoluções. Até dezembro!

 

 

 

3. 

 

 

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