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Livros para adiar o fim do mundo

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Um cantinho para "falar" de livros, para trocar ideias, para descobrir o próximo livro a ler.

Livros para adiar o fim do mundo

13
Fev24

#13/2024 - pequenas coisas como estas, Claire Keegan: manifesto contra a indiferença

livrosparaadiarofimdomundo

Pequenas Coisas como Estas

Relógio d'Água

81 páginas

Apetece-me só deixar a imagem da capa, a indicação das páginas, que não desencorajam ninguém, e dizer para se aventurarem na leitura deste pequeno/enorme livro, para se verem surpreendidos como eu.

Mas a verdade é que não consigo ficar calada, tenho sempre que dizer alguma coisa: por exemplo, leiam este livro, mesmo que seja o único que vão ler na vida. Vale cada palavra, cada linha, cada pequeno capítulo.

A história apresenta-nos (como ponta do iceberg) o dia a dia de Bill Furlong, comerciante de carvão, assoberbado com trabalho nos dias que antecedem o Natal, agudizados pelo clima frio da Irlanda. Bill é pai de família, tem cinco filhas e vive para as educar e para lhes garantir um futuro mais ou menos tranquilo numa Irlanda sempre marcada pelo estigma da pobreza. Nesses dias, Bill dá por si a questionar a sua vida, a ansiar por qualquer coisa imprecisa, a recordar a sua infância, a forma como a mãe teve a sorte de se ver protegida pela patroa, quando se soube grávida em solteira. A Bill nada faltou, apenas um puzzle que ele tinha desejado num dos Natais da infância. Como muitas outras crianças nessa época, fruto de circunstâncias idênticas, Bill nunca conheceu o pai. Este dado da biografia de Bill é fundamental para perceber a mensagem da história.

Sobranceiro à vila, situa-se o convento, paredes meias com o colégio onde estudam as filhas de Bill, igualmente administrado pelas freiras. Bill é o fornecedor de carvão do convento.

Mais não digo, porque não posso, nem quero, estragar-vos o prazer da leitura e de estabelecerem os nexos da história. O que é verdadeiramente impressionante neste livro é a forma como a autora sem falar da atrocidade de que se propõe tratar, consegue, com breves pinceladas, dar-nos conta da desumanidade, da hipocrisia, da crueldade, da indiferença que entornam o assunto que está ali a ser tratado. O que é aqui equacionado é como é possível, paredes meias com o horror, permanecer indiferente, fazer-se de conta que não se sabe, ceder à imposição do silêncio, enquanto seguimos a nossa vida tranquilamente, sem levantarmos ondas. Não há nesta observação o mínimo juízo de valor. É mais uma interrogação, é mais o desejo de não nos vermos assim testados e interpelados. É esse o motivo do livro.

Por outro lado, cada página traz-nos a imagem da irlanda, dos seus hábitos e tradições. É como se fôssemos transportados até lá, sorvessemos o mesmo chá a propósito de tudo e de nada, entre outros apontamentos. É, por fim, a clareza da linguagem, sem equívocos, sem hermetismos, na sua desconcertante simplicidade, de quem se limita a mostar, a apontar, deixando-nos a responsabilidade de trilharmos o caminho.

Deixo como última recomendação, a mais importante de todas, a leitura da nota final e garantir-vos que não há arrependimento possível por virmos a este livro, mais um que me inspirou a vontade de ser melhor do que aquilo que sou, que me desafiou a superar-me, a centrar-me na bondade, na coragem, na indignação.

Leiam, vão ver que vale a pena.

 

01
Fev24

Um toque no coração

livrosparaadiarofimdomundo

No sábado, assistiu a uma palestra, onde fui moderadora de uma conversa à volta de um livro, mas não é disso que me traz aqui.

À saída da palestra, entre cumprimentos, aproximou-se de mim e perguntou-me se eu era quem eu sou. Respondi-lhe que sim, atenciosamente. 

Respeitosamente, pediu se podia marcar uma reunião comigo, durante a semana, porque queria muito fazer uma proposta à pessoa que eu sou no cargo que desempenho. Voltei a dizer-lhe que sim. Pedi-lhe que telefonasse, na segunda-feira para verificar a agenda. 

Telefonou. Sempre no mesmo registo respeitoso, atencioso, cavalheiresco quase. É um senhor de idade, tímido, inseguro, humilde, revelando uma alma que me comoveu profundamente.

Hoje reunimos então na escola. Assegurou-me que não me tomaria muito tempo, mas que tinha uma ideia para me apresentar. Pu-lo à vontade e preparei-me para o escutar. Disse-me que gostava muito de história, que valorizava muito a preservação dos monumentos e outras marcas da nossa história comum. Que tinha visto dois programas da rubrica "Visita Guiada", que lhe tinham parecido especialmente interessantes: um dizia respeito a Sintra e outro à Citânia de Briteiros, em Guimarães. Trazia consigo um quadrado de papel, menos que A6, onde tinha registado o nome dos sítios de interesse histórico, a cidade onde se situava cada um deles e um contacto telefónico. A sua proposta era que a escola levasse lá os alunos em visita de estudo, porque achou que seria importante para eles conhecerem aquele património. Pediu licença ainda para me apresentar outra proposta. Que é membro de uma associação e que o preocupa o facto de as crianças passarem tanto tempo ao telefone, por isso sugeria também que as crianças pudessem frequentar a sua associação, que participassem numa ssembleia para perceberem como funciona. Dei-lhe autorização para entrar em contacto com a professora da escoal amis perto e de propor essa articulação.

Hoje, no final de um dia muito intenso, chegada a casa, foi esta reunião que me veio insistentemente à lembrança, daí ter de escrever sobre ela. Primeiro, porque me dói de tanto me comover, que generosidade, que proatividade, que bondade neste gesto, que forma exemplar de valorizar a escola e, ao memso tempo, a nossa identidade, que forma de cidadania ativa e participativa. Que coragem também... Que gentileza. Ficou em mim o insólito deste encontro, que me deixou perplexamente feliz, mas, sobretudo tão, mas tão sensibilizada. Se fosse possível, voltaria à sala onde reunimos e abraçaria o senhor, na sua fragilidade, timidez e imensa delicadeza e bondade.

Sinto-me tão grata por este toque no coração, que me dói, sem que eu saiba muito bem porquê. 

 

09
Jan24

#1/2024 - Somos o Esquecimento que Seremos, Héctor Abad Faciolince: um manual da tolerância

livrosparaadiarofimdomundo

Somos o Esquecimento que Seremos

Alfaguara

335 páginas

A editora Alfaguara tem-me garantido das melhores horas de leitura, a América do Sul tem-me dado dos escritores que mais aprecio, constelação à qual se acabou de juntar este Héctor Abad Faciolince.

Temos de concordar que este livro tem um título belíssimo, que remte, desde logo, para o tempo em que eremos sombra. Desejavelmente, quando terminarmos a nossa trajetória na terra, infelizmente, em muitos casos, em especial nesse país mártir que é a Colômbia, de forma precoce e violenta. O título é retirado de um verso de Jorge Luís Borges, está tudo dito.

A narrativa que sustenta este livro levou vinte anos a escrever, o tempo entre o assassínio do pai do autor e o momento em que o conseguiu escrever sem que, tal como o explica, cada palavra lhe viesse molhada das lágrimas que as memórias dolorosas desse momento o impedissem de escrever com a dignidade que o api lhe mereceu. Esta é uma premissa poderosa. De facto, o resultado é um livro complexo, cheio de ternura e de amor por essa figura de um homem grandioso, que foi igualmente um pai absurdamente carinhoso, fisicamente carinhoso, numa sociedade patriarcal, cuja crença era que os homens se educava e criavam para serem duros. As primeiras pinceladas com as quais se recupera a figura de Héctor Abad pai são inspiradas por esse amor profundo, temperado pela mágoa de se escrever para uma sombra, de se escrever para a pessoa que o autor quereria que verdadeiramente lesse o livro. é um retrato que emerge de um contexto familiar coeso, feliz, numeroso. A personagem evocada é um marido amante, é um pai presente e preocupado com a formação dos filhos, é um pai que se derrama em sentimentos de aceitação, suporte e carinho para as suas filhas e filho.

A figura de Héctor ganha depois a dimensão de um homem, médico de profissão, que faz do humanismo a única forma de se conduzir na vida, que se empenha todos os dias não em tratar a doença, mas a preveni-la, não a fechar-se no seu consultório, esperando que o porcurem quem lhe possa pagar, mas mergulahndo nos bairros mais pobre de Medellín, pugnando por planos de vacinação, por água potável. É esse homem comprometido com a sociedade, com o bem comum, com a tolerância e o profundo respeito pelo sue semelhante que se torna incómodo, a ponto de os paramilitares o assassinarem, a ele e a tantos outros que igualmente procuram a construção de uma sociedade melhor.

É a figura do homem de cultura, amante da poesia e da música clássica que inspira nos outros também o amor pelo Belo e pelo Bem. 

É a personagem do pai o eixo central do livro. É o tributo de um filho que quer imortalizar o pai através da arte que domina: a escrita, para adiar o momento em que esse homem seja apenas esquecimento, deixando o repto aos seus leitores de comungarem dos mesmos sentimentos, partilhando-os no momento da leitura e, com esse gesto, contribuir para que a figura deste homem bom perdure um pouco mais na humanidade.

Por último a escrita de Héctor Abad, o filho, é maravilhosa, contida, corajosa, brilhante, permeada do mesmo humanismo que o pai lhe insuflou desde tenra idade, que não cedeu à raiva e ao rancor, que soube viver a perda mais dolorosa da sua vida com a tolerância que aprendeu com o seu mestre. 

Em minha opinião, temos mesmo muito a ganhar com a leitura deste livro, algumas das suas páginas são memoráveis pela imensa lição de cidadania, de ética, de humanismo. poucas leituras foram tão inspiradoras para mim, poucas leituras quis partilhar com o maior número de pessoas possível, como este livro. É inspirador e deixa-nos aquela vontade de procurarmos sempre a melhor versão de nós mesmos, a vontade de contribuirmos para o bem comum, de, com os nossos gestos, fazer o mundo um pouco melhor. 

Recomendo, recomendo, recomendo. Aceitem esta recomendação. Creio firmemente que não se vão arrepender. 

06
Jan24

Livros 2023 - final da lista que ninguém tinha pedido

livrosparaadiarofimdomundo

Aqui deixo a continuidade da lista das minhas leituras de 2023, certificadas com processo científicos de que ninguém se atreverá a duvidar.

julho 2023 - dias grandes, finais de tarde na praia, dias na praia, o que é sempre bom para a leitura

Terra Alta, Javier Cercas - entretenimento, ali já a navgar num registo policial, que é terreno por onde me aventuro pouco. cumpre, bem, é leitura absorvente, lê-se com gosto, interesse e expectativa. Não desaconselho.

Terra Americana, Jeanine Cummins - um livro que já tinha estado nas minhas intenções de leitura, mas do qual desisti por ter lido algumas críticas. Passada essa quarentena e graças à hora H da Feira do Livro, comprei para poder dar a minha opinião, por ter lido e por não ter ouvido dizer. Resultou num complexo de que ainda não decidi o desfecho. Ler, lê-se, é inesquecível, hummm, entretém, sim, mas falta-lhe deixar marca, deixa a sensação de ficar sempre aquém. Reli as críticas ao livro, revi-me na maior parte delas. Olhem, façam como eu, se têm curiosidade, leiam e depois formem a vossa opinião, nos tempos que correm, é sinal de maturidade e espírito crítico.

A forma das Ruínas, Juan Gabriel Vásquez - Vasquez é um dos escritores que tenho acompanhado com muito gosto, dele só me custou ler Olhar para Trás. É uma leitura deveras interessante, em especial por se assumir um registo multiforme de géneros (crónica, relato autobiográfico, romance, análise histórica), faz-se uma análise profunda sobre alguns dos acontecimentos-chave da história recente da Colômbia e, como sempre nesse tipo de relatos, aprendo sempre muito e há sempre um impuso para a pesquisa e o aprofundar de conhecimentos, na tentativa de compreender o livro lido. Não será um livro para beginners, mas para leitores de estrada larga é de não se perder.

A cripta dos Capuchinhos, Joseph Roth - Roth é um dos autores de que nunca me arrependo de ler nada do que tinha escolhido. É um escritor com gravitas, cuidadoso, contido, magistral. Já tenho mais um na mina lista de desejos. Adoro, não há maneira mais simples de dizer isto, os seus livros e, mais uma vez, é literatura que me leva a aprender, sempre, e que me deixa também um certo travo de nostalgia no espírito, que se prende com uma emergência do desaparecimento de um mundo que já foi ordenado, justo e ético e se vai transformando noutra coisa, bem mais deprimente.

Agosto 

Berta Isla, Javier Marías - estou lentamente a reiniciar-me em Javier Marías, de que não gostei de Os enamoramentos. Este livro absorveu-me, gostei do registo e perdura na minha memória. Seguir-se-á Tomás Nevinson, sem dúvida. O escritor terá outras oportunidades, está prometido.

Setembro

O Sino da Islândia, Halldór Laxness - eu gosto sempre de livros cuja ação decorre na Inslândia, essa terra de extremos onde sonho ir um dia. Laxness é um mestre da Literatura. É muito imaginativo na tessitura das suas histórias, revelando um sentido de humor inesperado e um estudo da natureza humana que é inspirador. A bondade está presente nos seus livros como as flores que nascem na adversidade, mas também a resistência, o orgulho, a convicção. Lá está, não será um escritor para o qual todos estejamos prontos, mas é maravilhoso. Aventurem-se...

Reflexos num olho dourado, Carson McCullers - uma obra breve com a intensidade das tragédias clássicas, um enredo que cresce como massa fermentada, numa tensão crescente, que só pode acaber em... tragédia. O livro deu origem a um filme, que ainda não vi, mas pus na lista.

Outubro

A arte de driblar destinos, Celso Costa - vencedor do prémio Leya, lê-se num fôlego. É leitura muito agradável, um relato sobre as memórias do autor, criado num certo Brasil rural e que acabou por se tornar professor, inspirado e inspirador. Gostei muito.

Mais que mil imagens, António Mega Ferreira - alguém fica surpreendido? Foi um dos títulos do autor que persegui com mais vontade, até o conseguir a preços que não implicasse ter de doar um rim. A ideia do livro parte da leitura de imagens que interpelaram o autor: pintura, cinema, escultura, fotografia. Sabendo nós o homem de cultura e erudição que Mega Ferreira foi, obviamente que a leitura não me desiludiu. Recomendadíssimo. É maravilhoso.

Daqui deste lugar, Inês Silva - relato de viagem de mota, pela N2, escrito por uma amiga. É um opúsculo muito bem escrito, que se lê com gosto, em especial para quem já percorreu a mítica estrada.

Novembro

O coração é um caçador solitário, Carson McCullers - é um livro sobre a morte da esperança. É um clássico que todo o leitor por convicção deve ter no seu currículo... se assim o entender, que os livros não são os evangelhos. Recomendo muito, mas não para refrigério, assim mais para nos mantermso alerta e conscientes.

Um cavalo entra num bar, David Grossman - Grossman é um escritor que estou a começar a conhecer. Este é um livro duro, triste, nostálgico e infinitamente belo.

Vidas escritas, Javier Marias - o livro traz-nos pequenos relatos de episódios biográficos de escritores conhecidos. É interessantíssimo. Inclui uma parte apenas sobre mulheres e outra com a reprodução de fotografias e postais da coleção do autor que retratavam alguns desses escritores. É muito interessante e nele cruzei-me com algumas das referências que constam do livro do António Mega Ferreira.

Os peixes também sabem Cantar, Halldór Laxnesse - é ler o que se disse atrás. Ainda mais bonito que o anterior.

Dezembro

Limpa, Alia Trabuco Zeran - ali com ecos da Canção Doce, de Leila Slimani, mas diferente e também muito bom. É um livro triste, poderoso, intenso e dramático. Recomendo bastante.

Tudo é Rio, Carla Madeira - bastante badalado, como sabemos. É de ler sem interromper. Tem um final supreendente, é bonito e esperançoso. Só ali no início é que achei que poderia ser um bocadinho menos, acho que quem já leu, me poderá perceber.

Lincoln Highway, Amor Towels - terminado já no nascer de 2024, mantive com este livro uma relação esquizofrénica, primeiro mergulhei nele vorazmente, depois cansei-me da extensão, no fianl reconciliei-me com ele e acabei por gostar mesmo  muito, Estive para me zangar com o autor e com o Obama, mas estamos bem, agora. Towels é grande escritor. Apostem neste livro.

Em suma, aquele graal dos 52 livros, não foi alcançado. A resolução para 2023 foi ler 15 páginas diárias (em média), consegui 25 páginas por dia (é verdade, somei e dividi, há patologias mais graves e perigosas). 

Para 2024, a meta é de uma média de 40 páginas por dia, que se não for para superar o que já fiz, nem vale a pena chamarem-me.

Um Feliz Dia de Reis e um 2024 cheio de livros.

 

 

02
Jan24

Livros 2023 - Lista que ninguém pediu, mas que eu ofereço (parte I)

livrosparaadiarofimdomundo

Feliz 2024,

Como houve tolerância de ponto para hoje, creio que se pode entender o dia 2 como uma extensão do dia 1 e ninguém leva a mal que eu apresente hoje o meu balanço de leituras do ano 2023. Afinal isto é ou não um blog sobre livros? 

Deixo uma listagem com classificação, numa escala cientificamente válida, que vivemos num século em que há estudos para tudo.

janeiro/2023 (foi o mês em que li mais, quase acreditei que, em 2023, seriam os 52 livros, pois, mas não foram...)

A família Netanyahu, Joshua Cohen - recomendo como interessante

Os anos, Annie Ernaux - para os nascidos em Portugal na década de 70 perceberem que em França nem tudo são rosas e que há mais pontos em comum com Portugal do que o facto de sermos um pais de emigrantes faria supor. Creio que é um livro que não devem deixar para trás;

O perfume das flores à noite, Leila Slimani - eu gostei, porque eu acho que a Leila escreve bem e tudo o que quer. No entanto, sei que é um livro que agradará mais a um público mais vocacionado para o estudo da Literatura, ou aqueles que se interessam pelo ofício do escritor. Há outros títulos desta escritora que considero mais "universais";

O acontecimento, Annie Ernaux - incontornável, para que saibamos o horror que foi para muitas mulheres entregarem-se a curiosas que faziam abortos clandestinos, para travarmos um pouco antes de julgarmos quem quer que seja. Mais uma vez, França e Portugal empatam;

Roteiro Afetivo das Palavras Perdidas, António Mega Ferreira - Mega Ferreira é um dos meus escritores favoritos. Adorei este livro. Traz-nos o sabor nostálgico de coisas muito próprias da nossa identidade, além de suscitar esse fascínio que as palavras exercem sobre nós, em constante evolução, nascendo, vivendo e também morrendo, como tanta coisa que nos passa pela vida;

Flecha, Matilde Campilho - se tiverem outras coisas para lerem também não é preciso irem a correr. É curioso, é criativo, é original, mas nada de perder a cabeça. Esperem um pouco mais, que há melhor lá mais à frente.

A Mais Preciosa Mercadoria, Jean-Claude Grumberg - Uma pequena pérola, que se lê numa horinha, é importante, é preciso, mesmo que não queiramos, voltar ao horror do passado, mas, a fazê-lo que seja em modo sério e não a brincar aos campos de concentração, onde parece que havida de tudo, menos o que realmente havia, que era o desespero mais desesperançado. Eu sei, tenho alguns preconceitos, mas não sou perfeita.

O jovem, Annie Ernaux - Esta autora, de quem li 4 livros, foi-se impondo como uma mulher de coragem, por abordar sem pudores, nem sensacionalismos, temas que fazem de nós aquilo que somos: humanos.

Uma paixão simples, Annie Ernaux - ler a apreciação anterior.

Fevereiro 2023 - ainda com fôlego

Medeia e os seus filhos, Ludmila Ulitskaya - se quiserem passar de nível na leitura, este é um bom livro para se desafiarem. Eu gostei imenso, fez-me uma vontade enorme de viajar para a Crimeia, fez-e perceber porque lamentamos tanto o que acontece nesse ponto do globo. A Crimeia surge quase como personagem neste livro, um lugar quase paradisíaco. Foi o segundo livro que li desta autora. entretanto saiu outro em Portugal, que já está na minha lista para 2024.

Vejam como dançamos, Leila Slimani - É agora: leiam tudo o que Leila Slimani publicou em Portugal. Este livro dá continuidade a Vejam como dançamos e é realmente muito bom. É uma escritora a manter debaixo de olho, porque se mostra versátil, ainda nunca desiludiu.

Shuggie Bain, Douglas Stuart - É mais ou menos isto: a Irlanda a empatar com Portugal, no que a uma certa indigência diz respeito. Uma história de amor de um filho pela mãe em modo autodestruição, que nos absorve como um buraco negro. Mesmo muito bom.

O segredo do Meu Marido, Liane Moriarty - Entretenimento. Trama que prende, persiste na memória até o terminarmos. Muito cinematográfico.

Março 2023 - agora é sempre a descer (às vezes, a vida passa-nos uma rasteira e quem se lixa é a leitura)

Um gentleman em Moscovo, Amor Towels - Imperdível! Leram bem, este livro devia ser leitura obrigatória. Tem a enorme e surpreendente qualidade de nos fazer querer ser melhores pessoas. É uma espécie de manual para voltarmos a ser empáticos, resiliente, educados, já agora, argutos e - a maior lição do livro - para não darmos "o gostinho" aos nossos inimigos, ou vá, a quem nos quer chatear.

Abril 2023 - Ou me esqueci de tomar nota, ou parece que não li nada. É triste!

Maio 2023 - em esforço para retomar

O Palácio de Papel, Miranda Cowly - Detestei. Mas tinha gasto o dinheiro, portanto li. Também estava a passar um fim de semana e não tinha mais nada para ler. Desiludiu-me o livro e desiludiu-me a Reese Waterspoon, que o recomendou no seu clube de leitura. Portanto, numa palavra, detestei... é que me irritou.

As regras da cortesia, Amor Towels - regressa aos autores que te fizeram felizes, mas nem sempre é a mesma coisa. Mas cumpriu. Li sem tédio, mas o anterior era tão melhor, a fasquia tinha ficado tão alta.

Junho 2023 - foi só um

Rua Katalin, Magda Szabó - de vez em quando, mesmo contra todas as expectativas, é preciso apostar. Façam isso por este livro, é de uma delicadez, de uma doçura, a narrar coisas tristes da nossa hstória... quase como os Atos Humanos. Podem incluir como desafio de leitura, valerá bem a pena.

Acredito que poucos terão chegado aqui, que o texto é demasiado longo. Ainda bem que não li os tais 52 livros. Continuarei amanhã, esperando não desiludir quem acha que precisa disto para alguma coisa.

 

 

 

 

 

 

05
Nov23

#29/2023 - O coração é um caçador solitário, Carson McCullers: um livro onde morrem todos os sonhos.

livrosparaadiarofimdomundo

O Coração é um Caçador Solitário

355 páginas

Editorial Presença

 

Andava há muitotempo para ler este livro, undicado como um dos 100 melhores livros do século XX, segundo a Time Magazine. Foi a minha leitura nas duas últimas semanas, emprestado por uma amiga, com quem partilho o gosto pela leitura.

O livro narra-nos as histórias de cinco personagens, na Geórgia da década de 20. As personagens são um surdo-mudo, uma jovem adolescente, um médico negro, o dono de um café e um socialista. Habitantes de uma pequena cidade do sul da América, partilham as mesmas circunstâncias de pobreza, marginalização, violência e desesperança. O surdo-mudo, senhor Singer, é como um centro em torno do qual gravitam as restantes personagens, que fazem dele confidente, dando-lhe a conhecer os seus sonhos, angústias e anseios, num tempo que parece fermentar de expectativas que nunca chegam a concretizar-se.

É uma narrativa serena, muito melancólica. Nada parece suceder e parece que tudo é possível. A história vai crescendo em tensão, prendendo o leitor que percorre as páginas também à espera de saber o que virá a contecer no futuro destas personagens tão complexas. Será que Mick virá a tornar-se numa grande compositora? Será que o dr. Copeland conseguirá que os direitos dos negros venham a ser respeitados? Será que Bill Brannon encontrará o amor, esclarecendo a ambivalência dos sentimentos que manifesta? Será que os homens conseguirão entender a verdade que Jake Blount quer que todos conheçam?

A chave do livro, em minha opinião, está na incomunicabilidade que se estabelece entre estas personagens. Quando acontece encontrarem-se todos no mesmo espaço - o quarto do senhor Singer para o qual convergiam todos os dias - nenhum deles consegue falar com os outros, a tensão é tão palpável que entre eles nutrem uma verdadeira aversão e acabam por dispersar porque, na verdade não se toleram. Embora todos queiram o mesmo, a realização dos sonhos numa terra estéril que, por si só, parece secar e fazer mirrar o sonho mais consistente, não conseguem comunicar uns com os outros e essa incapacidade parece ditar o fim dos sonhos, tragados pelas circunstâncias adversas que nenhum deles consegue vencer. Quanto a mim, o paradigma dessa incomunicabilidade está simbolicamente representado no facto de todos partirem do pressuposto de que o senhor singer os compreendia e que prestava atenção aos seus desabafos, quando este convivia com eles, fechado no seu mutumismo e surdez congénitos, com verdadeira indiferença, consumido pelas suas próprias preocupações.

É um livro sobre desencontros inexoráveis, que sintetizam os desencontros de uma sociedade fraturada, racista, violenta, cujas tensões a pressionam até explodirem em confrontos, em intolerância, em violência quase generalizada. É um livro atual, que nos alerta para o perigo de não nos abrirmos ao outro e de não conseguirmos estabelecer pontes. Gostei muito e gostei que o livro me prendesse à leitura com a firmeza e a consitência com que está escrito, já que, a título curiosidade, foi o primeiro livro da autora a ser publicado, com a idade de 23 anos. Sinto inveja... 

 

01
Nov23

Às vezes também vou ao cinema: Assassinos da Lua das Flores

livrosparaadiarofimdomundo

 

Assassinos da Lua das Flores,

 

Não há nada como ir ao cinema, abstrairmo-nos de tudo e ficar no escuro da sala, apenas focados no filme.

Pois se forem ver este Assassinos da Lua das Flores, mesmo que não queiram, a intensidade do filme vai manter-vos quase sem respirar desde o primerio instante até ao último segundo desta longa metragem de 206 minutos.

Em poucas palavras, o filme é inspirado no livro homónimo do jornalista David Grann (não conheço o livro) e debruça-se sobre a tragédia que se abateu sobre a nação dos Osages, quando se descobriu petróleo nas suas terras, no Oklahoma. É fácil, a partir desta sinopse, perceber sobre o que é o filme: atrocidades cometidas em nome do dinheiro por homens pertencentes à maioria branca que não consegue ver os outros a deterem poder nem dinheiro. 

Começo por aquilo que primeiro me chamou a atenção: a banda sonora. Marcando o ritmo narrativo do filme, é muito boa, em alguns momentos, principalmente logo no início, condiciona a nossa respiração, enquanto os sentimentos de revolta e repugnância começam a crecer dentro de nós.

Segue-se a fotografia, dando conta da beleza natural e um sítio "abençoado" por Deus, já que ai se descobriu petróleo. Da transição da paisagem selvagem, de vastos horizontes, para campos extensos de torres de petróleo, feridos pela ganância dos homens, pouco há a dizer, os valores mais altos são sempre os mesmos.

Os crimes cometidos contra os índios Osages com o fito de tomar posse do petróleo e do dinheiro são o tópico transversal do filme. Entre doenças misteriosas, mortes violentas que ninguém investiga,  assassinatos pela calada na noite, assaltos aos índios, até depois de mortos, casamentos por interesse com as mulheres Osage, depois assassinadas para se herdarem os seus direitos, assassínio de crianças com o mesmo objetivo, tudo serve para que os brancos tomem posse daquilo que é dos Osages. Um outro aspeto que causa verdadeiro choque é percebermos que os índios para movimentarem o seu dinheiro precisavam de tutores brancos que autorizavam esses movimentos, sendo ainda necessário justificar a despesa.

O desempenho dos atores é brilhante, em especial de Robert de Niro, cuja perfídia da personagem a que dá corpo e alma, quase se cheira na sala de cinema, tão insinuante se torna. Verdadeiramente odioso. Leonard Di Caprio, igual a si mesmo, ator camaleónico, capaz de qualquer papel, sempre convincente, sempre autêntico, neste caso um perfeito patife ali a roçar o idiota, mas fruto do tempo e dos modos. Lily Gladstone, verdadeira heroína clássica, sábia, inteligente, serena e de uma grandeza que constrasta em absoluto com as personagens de Di Caprio de De Niro. Extraordinária.

Martin Scorsese a evidenciar que a experiência é um trunfo que só de omina com o tempo. O filme é maravilhoso, até pelo toque moderno e irónico de algumas cenas. Continua a abordar temas que lhe são caros, nomeadamente a violência, sempre relacionada com o dinheiro. A ganância que não se detém perante qualquer obstáculo.

Pelos tempos que vivemos, o filme é também muito atual, opressão, violência, tentativa de levar a cabo um genocídio, o facto de a justiça não ser um direito inalienável para todos. Isto resumido numa das frases que, em minha opinião, sintetiza bem o filme, proferida por De Niro, qualquer coisa como: perante o conhecimento do mal, durante algum tempo, as pessoas manifestam-se, protestam, mas, com o tempo, vão à sua vida e acabam por se esquecer. Vivemos muito essa forma de estar, a guerra da Ucrânia normalizou-se, Gaza também se virá a normalizar...

Ver este filme é quase um exercício de cidadania.

 

 

12
Out23

#27/2023 - Mais que mil imagens, António Mega Ferreira - exercício de (re)conhecimento

livrosparaadiarofimdomundo

 

Mais Que Mil Imagens

184 páginas

Sextante Editora

Volta sempre ao lugar onde foste feliz. Ou seria, demora-te nos lugares onde foste feliz?. Pode ser assim: lê ou relê os autores que te fizeram/fazem feliz.

Voltei a António Mega Ferreira e não me desiludi.

Este livro foi um objeto de desejo durante muito tempo... os livros estão tão caros! Depois Deus fez as feiras do livro e as editoras fizeram o verbo da Hora H e os objetos de desejo passam a posses luxuriosas.

Esta foi mais uma leitura sôfrega, porque engloba alguns ingredientes que, conjugados, dão das minhas leituras preferidas: pintura e outras artes plásticas, curiosidades, fruição de objetos culturais, impressões subjetivas enformadas por uma erudição que me deixa sempre pálida de inveja, um entrever de uma vida que eu gostaria de ter.

O livro desenvolve-se em capítulos de extensão variável, mas a maior parte das vezes de curta extensão, sobre objetos/imagens que as palavras aproximam. São reflexões sustentadas sobre um profundo conhecimento sobre objetos de desejo - lá está - que excitaram a curiosidade, a paixão e o interesse estudioso do autor: pinturas marginais, no sentido em que, embora sejam obras-primas, não integram a galeria dos best sellers; frames de filmes, objetos, fotografias, baixos-relevos. 

É um livro de viagens, simbólicas, de conhecimento. Dito de outra maneira, o livro desperta em nós a pulsão para a viagem, para nos deslocarmos até lá e tornar possível a contemplação destes objetos através das luzes deixadas pelo autor. ´´E como m roteiro, uma visita de estudo depois das aulas de educação visual.

Gosto de livros assim, que me aumentam a vida, que me despertam,, que me chamam a tenção para aspetos que me passariam despercebidos entre o barulho das luzes.

António Mega Ferreira foi um homeme de cultura como poucos, como poucos temos em Portugal. Deixou uma obra interessantíssima, mas também muito subjetiva, pessoal resultado das suas escolhas e reflexo de uma liberdade de pensamento, que é inspiradora. Ainda não li tudo o que escreveu, mas não tenho pressa. É bom saber que ainda há livros para descobrir deste autor. Este livro, em particular, interpelou-me fortemente, esteve comigo todos os minutos em que não o estive a ler e as impressões que me foi deixando persistiram/persistem na minha memória. Assim, para já, pela proximidade, fica planeada uma ida ao Museu Nacional de Arte Antiga para contemplar o intrigante Conversação, de De Hooch.

A inversão do adágio mais vale uma imagem que mil palavras, pelo Mais que mil imagens coloca o enfoque na necessidade de se dizer sobre a imagem, como forma de estabelecer uam ponte, de conhecimento e de perceção, tal como nos previne o autor no prefácio. Olhem, comigo resultou.

 

09
Out23

#26/2023 - O sino da Islândia, Halldór Laxness - como uma saga

livrosparaadiarofimdomundo

O Sino da Islândia

439 páginas

Cavalo de Ferro

 Um autor cujo nome não consigo pronunciar.

Prémio Nobel. Islandês a escrever sobre a Islândia.

Uma certa forma de viajar até este país, esta ilha, já que, a avaliar pelo custo de vida, será o mais perto que estarei de realizar o sonho de a conhecer.

Vá, não é um livro que se leia de um fôlego (levei quase um mês a Lê-lo), mas seduz e encanta. A história é sobre a própria Islândia e o seu povo, num tempo em que a ilha e as gentes viviam sob domínio dinamarquês. É uma revisitação das sagas antigas. Os islandeses são descritos de forma desapiedada, quase caricatural, mas são-nos do ponto de vista dos ocupantes dinamarqueses que tecem a respeito dos habitantes da ilha uma mitologia que os revela como seres abjetos e indignos. São as personagens, na sua grandeza, dignidade, coragem , arrojo e rebeldia, que resgatam a essência de um povo que se vê diminuído e destitído dos seus direitos, nomeadamente o direito de pescar e comercializar os frutos do seu trabalho.

As personagens, poucas, mas emblemáticas, centram-se no triângulo que junta um ladrão de corda, acusado do assassínio de um agente do rei dinamarquês, mas que por reviravoltas do destino, é inocentado, preso, volta a ser libertado, nunca chegando a pagar pelo seu pretenso crime; um erudito que coloca o amor aos livros antigos nos quais se cristalizou a alma da Islândia acima de tudo, até da mulher que ama; e o sol da Islândia, a figura feminina rebelde, desajustada, recusando a assumir o papel que se esperava de uma mulher da nobreza.

Exige tempo e atenção, mas compensa. Grande livro de um grande autor, diz que um dos maiores de sempre.

Experimentem, atrevam-se, desafiem-se., depois digam qualquer coisa.

23
Fev23

#janeiro/2023 - ler mais do que escrever

livrosparaadiarofimdomundo

De maneiras que ando a ler mais do que escrevo.

Já fui do tempo em que lia e escrevia sobre o que lia.

Agora é mais ler.

Mas gosto muito de partilhar o que li, que cá egoísta é que não. Se eu gostei, quero que o maior número possível de pessoas possa ter a mesma experiência. 

Ora fica aqui a lista dos livros lidos em janeiro. No final da lista, conto-vos quais os que mais gostei e aqueles que penso que acrescentam qualquer coisa à vida.

Let's look at the trailer:

#1/2023 - A família Netanyhau, Joshua Cohen, p.261;

#2/2023 - Os anos, Annie Ernaux, p. 196;

#3/2023 - O perfume das flores à noite, Leila Slimani, p. 137;

#4/2023 - O Acontecimento, Annie Ernaux, p. 87;

#5/2023 - Roteiro Afetivo das palavras perdidas, António Mega Ferreira, p.212;

#6/2023 - Flecha, Matilde Campilho, p. 262;

#7/2023 - A mais preciosa mercadoria, Jean-Claude Grumberg; p. 118;

#8/2023 - O jovem, Annie Ernaux, p. 38;

#9/2023 - Uma paixão simples, Annie Ernaux, p.59

Para quem gosta de sugestões, ponham na vossa lista A família Netanyhau, Os Anos, O Acontecimento e, claro, o Roteiro Afetivo das palavras perdidas, do meu escritor de eleição dos últimos tempos. Flecha é o mais curioso, uma pérola muito curiosa. A mais preciosa mercadoria uma narrativa breve com a força da partícula do Big bang.

Entretanto, deixo-vos a lista de fevereiro, que também tem coisas interessantes.

2023 está a ser um bom ano.

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