O melhor de 2020: as pessoas, definitivamente, as pessoas
A melhor palavra para definir 2020 é: agridoce.
Li no facebook - e não posso dar os créditos, porque não vinha identificado - que 2020 não foi um ano, foi uma prova de resistência, e foi mesmo.
Tivemos o confinamento, mas a família reagrupou-se e nunca tínhamos sido família de forma tão completa, reiventando maneiras de estarmos juntos.
O ensino passou a ser a distância, mas nunca me tinha sentido tão próxima dos meus alunos e a nossa despedida foi das coisas mais bonitas deste ano.
Houve dificuldades profissionais acrescidas, mas o espírito de equipa nunca tinha sido tão forte.
Não foi possível fazer férias em família, que nos últimos dez anos tinham sido sempre uma viagem de carro, mas, depois desses dez anos, voltei a ter dias de puro descanso a ler à beira-mar na companhia das duas mulheres da minha vida, a minha mãe e a minha filha.
Por fim, nesta última semana, quando já sentia que a corrida de obstáculos já estava quase a terminar, faltavam só dez dias para o fim do ano, até as cartas astrais falavam num fecho de ciclo de vinte e oito anos e no início de um novo ciclo de crescimento, o que poderia correr mal? Eis que, por causa de um estúpido acidente - como se houvesse acidentes inteligentes - fiquei sem carro. E eu sou daquelas pessoas - como alguém alguma vez disse com ar enfastiado, depois de bater num carro de outra pessoa "ainda por cima calhou-me uma daquelas pessoas que só tem um carro" - pois sou dessas, das que só têm um carro.
Acontece que foi preciso comprar um carro novo, de um dia para o outro, que na provínica os transportes públicos são uma miragem que nunca passa a horas decentes. E fui atendida num stand de excelência - a Benecar (justifica-se a publicidade, ainda que gratuita), por dois anjos, a Marisa Silva e o Ricardo Cardoso - não costumo dizer nomes, mas este caso obriga. Foram absolutamente extraordinários, disponíveis, atenciosos, pacientes, bem-humorados, delicados e outra vez pacientes. Estava tão atordoada que nem conseguia decidir entre automóvel ou carrinha, cilindradas e potência, ano de fabrico e extras. Fui literalmente guiada, aconselhada e tranquilizada.
No momento de levantar o carro, depois de assinar a papelada, achei eu que me entregavam a chave, me davam uma pancadinha no ombro e vá lá à sua vida, que nós vendemos mais um carro. Não, não foi assim. Num espaço coberto, luxuoso quase, bonito sem dúvida, estava um carro com uma laço vermelho enorme - juro que nem me ocorreu que fosse o que tinha acabado de comprar - e era o meu. Além disso, quando o Ricardo - desculpe tratá-lo com esta familiaridade - abriu a porta para me explicar o funcionamento, tinha um ramo de flores - leram bem, um ramo de flores em cima do banco como gentiliza, além de uma oferta de duas garrafas de vinho. Quase desfaleci. Eu sei, é marketing, mas funiona, oh se funciona. Não havia nada que obrigasse a isto, só a perseguição da excelência e cai bem, dispõe bem. Eu já ficava feliz com a forma como fui atendida, mas estes pormenores, estas atenções, marcam a diferença. Senhores que vendem coisas, aprendam, é assim que se faz e se fidelizam clientes.
Volto ao início: neste ano agridoce, foram sempre as pessoas que me salvaram, as pessoas com quem tive o privilégio de me cruzar foram o melhor de 2020, o Ricardo e a Marisa são os rostos e os nomes de hoje, mas houve muitas mais. No fim de tudo... as pessoas.