Um toque no coração
No sábado, assistiu a uma palestra, onde fui moderadora de uma conversa à volta de um livro, mas não é disso que me traz aqui.
À saída da palestra, entre cumprimentos, aproximou-se de mim e perguntou-me se eu era quem eu sou. Respondi-lhe que sim, atenciosamente.
Respeitosamente, pediu se podia marcar uma reunião comigo, durante a semana, porque queria muito fazer uma proposta à pessoa que eu sou no cargo que desempenho. Voltei a dizer-lhe que sim. Pedi-lhe que telefonasse, na segunda-feira para verificar a agenda.
Telefonou. Sempre no mesmo registo respeitoso, atencioso, cavalheiresco quase. É um senhor de idade, tímido, inseguro, humilde, revelando uma alma que me comoveu profundamente.
Hoje reunimos então na escola. Assegurou-me que não me tomaria muito tempo, mas que tinha uma ideia para me apresentar. Pu-lo à vontade e preparei-me para o escutar. Disse-me que gostava muito de história, que valorizava muito a preservação dos monumentos e outras marcas da nossa história comum. Que tinha visto dois programas da rubrica "Visita Guiada", que lhe tinham parecido especialmente interessantes: um dizia respeito a Sintra e outro à Citânia de Briteiros, em Guimarães. Trazia consigo um quadrado de papel, menos que A6, onde tinha registado o nome dos sítios de interesse histórico, a cidade onde se situava cada um deles e um contacto telefónico. A sua proposta era que a escola levasse lá os alunos em visita de estudo, porque achou que seria importante para eles conhecerem aquele património. Pediu licença ainda para me apresentar outra proposta. Que é membro de uma associação e que o preocupa o facto de as crianças passarem tanto tempo ao telefone, por isso sugeria também que as crianças pudessem frequentar a sua associação, que participassem numa ssembleia para perceberem como funciona. Dei-lhe autorização para entrar em contacto com a professora da escoal amis perto e de propor essa articulação.
Hoje, no final de um dia muito intenso, chegada a casa, foi esta reunião que me veio insistentemente à lembrança, daí ter de escrever sobre ela. Primeiro, porque me dói de tanto me comover, que generosidade, que proatividade, que bondade neste gesto, que forma exemplar de valorizar a escola e, ao memso tempo, a nossa identidade, que forma de cidadania ativa e participativa. Que coragem também... Que gentileza. Ficou em mim o insólito deste encontro, que me deixou perplexamente feliz, mas, sobretudo tão, mas tão sensibilizada. Se fosse possível, voltaria à sala onde reunimos e abraçaria o senhor, na sua fragilidade, timidez e imensa delicadeza e bondade.
Sinto-me tão grata por este toque no coração, que me dói, sem que eu saiba muito bem porquê.